Por Márcio de Freitas*/Blog do Magno – Tanto Luiz Inácio Lula da Silva quanto Jair Bolsonaro bateram na Petrobras, diante do aumento de mais de 18% da gasolina e 24% no diesel das últimas semanas. O presidente defendeu até a privatização da empresa, enquanto fontes anônimas jogavam querosene na fogueira onde é queimado Joaquim Silva e Luna, o chefe da petroleira estatal.
Lula garantiu que acabará com a política de paridade de preços internacionais da Petrobras, com a devida interferência estatal para segurar os repasses de preços ao consumidor – principalmente na sua versão eleitor. A receita já foi utilizada pela ex-presidente Dilma Rousseff, custando muitos bilhões em dívidas à empresa, que perdeu valor de mercado, capacidade de investimento e quase quebrou.
Lula e Bolsonaro convergiram para o mesmo ponto, falar o que o seu eleitor quer ouvir. Com nuances, cada um tentou engambelar o distinto público: não existe quilômetro rodado sem o devido custo real atrelado ao preço de produção (e o mercado produtor se rege pelo dólar).
O presidente não conseguiu sequer convencer o ministro da Economia, Paulo Guedes, que bateu o pé e viu o preço da commoditie despencar no mercado internacional em uma semana, depois de ameaçar bater recordes de cotação. Guedes respirou aliviado. A popularidade presidencial que parecia estar se recuperando sofreu novo baque nos postos de coleta de intenção de voto.
Lula é um franco atirador. O que ele fala como candidato não é o que o governo fará hoje. Muito antes, pelo contrário. Promessas de candidato podem estar distante milhares de quilômetros por litro do que o eventual eleito pode fazer na prática. Mas isso sempre se resolve depois.
Ambos não podem brigar com o humor da população num momento crítico da eleição. Nem brincar de Maria Antonieta com o próprio pescoço: se a gasolina está cara, compre um carro elétrico! Eles polarizam a eleição e têm que manter o público fidelizado. Sem perdas significativas, e até buscar acréscimos para garantir a vitória.
Por isso é difícil para os candidatos dizer a verdade ou tentar enfrentar o problema sem demagogia, cuidando de reduzir os impactos no público que realmente precisa (os de baixa renda, sem gás para cozinhar ou aqueles que dependem de transporte público, mas sem demolir a bases fiscais do país). Eles precisam encontrar um ponto de conexão ideológica que mantenha o público engajado, de um lado e de outro, novamente convergindo na linha de ação.
Essa será uma das variantes de uma eleição que se projeta visceral e agressiva. Polos opostos muito mobilizados tendem a aumentar muito o ruído da campanha, com discurso mais emocional que racional. Há crenças para todos os gostos. Nas campanhas eleitorais, a tendência é que a fé suplante os fatos. Creio, logo voto é um mantra da marquetagem. Muitas vezes a verdade e a realidade não importam nesta lógica. Mesmo porque, no radicalismo, não se encontra nada parecido com a verdade nem com a realidade — em qualquer dos extremos. É muito mais retórica para vencer a disputa, mesmo sem ter razão.
Importa aos candidatos que seus seguidores estejam sendo abastecidos com argumentos para serem lançados contra o adversário. Podem ser diametralmente opostos ao que o outro oferece a seus eleitores, ou podem ser muito similares, mas com embalagem diferente. Como se livrar do problema? Privatizar ou interferir diretamente na estatal, mesmo contra os princípios mais elementares do mercado? Será que as proposições comportam de fato uma resolução do problema? A campanha não responde isso.
Qualquer privatização pode parecer simples à direita, ou a estatização dos objetivos da empresa (com ações no mercado) podem trazer os resultados no preço a um custo social pago por todos de forma não equânime. Há quem acredite numa forma, ou na outra. E os candidatos construirão discursos para justificar e manter o seu público mobilizado no debate.
Foi assim na eleição dos Estados Unidos em 2020. A postura de Joe Biden mais à esquerda exigiu esforço mais à direita de Donald Trump, que acabou derrotado apesar de ter mais votos do que quando foi eleito em 2016. E isso só ocorreu porque foi uma das eleições com maior comparecimento percentual da história recente dos Estados Unidos. A polarização é mobilizadora, mesmo que não resolva os problemas do povo.
*Analista político da FSB Comunicação