Castelo Armorial: o paço da cultura sertaneja pernambucana…

Diário de Pernambuco/Por: Samuel Calado – Redes Sociais e Sites

Você sabia que no sertão de pernambuco existe um castelo armorial? Pois é, poucas pessoas sabem disso, mas se vivêssemos hoje em uma Monarquia, com certeza o reinado seria no município de São José do Belmonte, a 474 km do Recife. A cidade é palco de um palácio que tem mais de 15 metros de altura. Ele enaltece a cultura popular sertaneja e enfatiza o Movimento Armorial, que teve como precursor o dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor Ariano Suassuna (1927-2014). 

O palácio foi inspirado na obra do escritor Ariano Suassuna. Foto: Chico Andrade/SeturPE
O palácio foi inspirado na obra do escritor Ariano Suassuna. Foto: Chico Andrade/SeturPE

A elaboração do projeto teve início no ano de 2002. Já o prédio começou foi construído entre os anos de 2007 e 2017 pelo empresário Clécio Novaes, amigo por mais de duas décadas de Ariano. “Em uma de nossas conversas, Ariano me disse que já tinha visto tudo sobre o movimento armorial, menos uma arquitetura. Foi a partir daí que surgiu a ideia de criar o projeto do castelo. Quando eu disse a ele que iria construir ele não acreditou”, relata o comerciante. 

Símbolos do movimento armorial estão presentes em todos os espaços do castelo. Foto: Chico Andrade/SeturPE
Símbolos do movimento armorial estão presentes em todos os espaços do castelo. Foto: Chico Andrade/SeturPE

Quem entra fica impressionado com tamanha delicadeza e riqueza de detalhes. Cada centímetro do lugar tem uma história para contar. Tudo foi milimetricamente pensado e fundamentado na literatura. Assim como o movimento, a união entre o medieval, barroco, a cultura popular e o erudito são fortes em cada canto do castelo. O palacete tem várias peças feitas regionais feitas em barro. Elas foram confeccionadas pelos artesãos de Tracunhaém. “Tivemos um trabalho imenso para deslocar cada obra de arte. Elas evidenciam os personagens que ilustraram a obra ‘A Pedra do Reino e o príncipe do Vai e volta’, de Ariano”, relata. .  

A parte de trás do castelo homenageia a cavalhada, bastante importante na cidade. Foto: Chico Andrade/SeturPE
A parte de trás do castelo homenageia a cavalhada, bastante importante na cidade. Foto: Chico Andrade/SeturPE

No térreo existe uma exposição com iluminogravuras de Ariano Suassuna. No segundo piso, há um acervo de xilogravuras de J. Borges. No terceiro piso, existem fotos contando a história de São José do Belmonte e no último andar existe uma cidade cenográfica doada pela Rede Globo Nordeste que retrata o Sertão no período do coronelismo no Brasil  (1889-1930). No alto do castelo existem quatro torres. As duas frontais, remetem ao castelo do personagem Dom Sebastião. Entre ele há uma ave chamada “quaderna”. Já as da parte de trás simbolizam a cavalhada, com as cores azul e vermelho.

O espaço guarda a primeira escultura feita do Padre Cícero, bastante venerado pelos sertanejos nordestinos. Foto: Chico Andrade/SeturPE
O espaço guarda a primeira escultura feita do Padre Cícero, bastante venerado pelos sertanejos nordestinos. Foto: Chico Andrade/SeturPE

Uma grande curiosidade é que o castelo guarda a primeira escultura talhada de Padre Cícero (1844 – 1934). O sacerdote católico brasileiro é bastante venerado pelos sertanejos nordestinos, que o chamam carinhosamente de “Padim Cíço”. Ele realizou diversas ações no Nordeste e por isso teve um imenso respeito da população menos favorecida. 

O lugar oferece não somente uma leitura acerca da obra de Ariano Suassuna, mas também sobre a síntese dos costumes do povo sertanejo nordestino. Ele evidencia o artesanato, as indumentárias, a musicalidade, a literatura e a força de um povo que não teme o sol escaldante, nem tampouco a seca. O espaço geralmente recebe visitas agendadas pelo telefone. Mais informações podem ser obtidas através do número (87) 3884-1028.