Bolsonaro vai à ONU para falar de Amazônia e soberania, temas de todos os antecessores…

Por Guilherme Mazui e Filipe Matoso, G1 — Brasília

O presidente Jair Bolsonaro viajará nesta semana a Nova York (EUA) para participar da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Será a estreia de Bolsonaro no encontro que reúne chefes de Estado, de governo e chanceleres.

O presidente tem dito que em seu discurso, marcado para terça-feira (24), fará uma defesa do que chama de “soberania nacional” e da atuação do governo brasileiro na Amazônia.

Na sexta-feira (20), em uma breve conversa com jornalistas na entrada da residência oficial do Palácio da Alvorada, o presidente disse que seus antecessores, quando iam à ONU, “falavam e não diziam nada”.

“Eu ouvi pronunciamentos anteriores de outros chefes de Estado do Brasil”, afirmou Bolsonaro. “No passado, tinha muita… Falava, falava, falava e não dizia nada. Temos que falar do patriotismo nosso, da questão da soberania, do que o Brasil representa para o mundo”, completou o presidente.

Na semana passada, em uma transmissão em uma rede social, Bolsonaro afirmou que fará um discurso “bastante objetivo” e diferente dos presidentes anteriores porque, na opinião dele, está “na cara” que os líderes de outros países o cobrarão na questão ambiental.

“Estou me preparando para um discurso bastante objetivo e diferente de outros presidentes que me antecederam. Ninguém vai brigar com ninguém, podem ficar tranquilos. Vou apanhar da mídia de qualquer maneira. A mídia tem sempre o que reclamar, mas eu vou falar como anda o Brasil nessa questão”, afirmou Bolsonaro.

G1 verificou os discursos na ONU de ex-presidentes do Brasil e em todos identificou trechos sobre soberania nacional, preservação da Floresta Amazônica ou adoção de medidas para combater as mudanças climáticas (leia mais abaixo).

Tradicionalmente, desde 1949, cabe ao Brasil fazer a abertura do debate geral na Assembleia Geral da ONU. Mas, segundo a Presidência, o primeiro presidente brasileiro a discursar no debate geral da Assembleia da ONU foi João Baptista Figueiredo, em 1982.

Bolsonaro será o oitavo a discursar, depois do próprio Figueiredo e de José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Desde Figueiredo, o único que não compareceu foi Itamar Franco.

Agenda

Bolsonaro embarcará nesta segunda-feira (23) para Nova York. Além do discurso na ONU, a agenda prevê uma reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres. Bolsonaro afirmou para a imprensa que deve ainda participar de um jantar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

De acordo com o Palácio do Planalto, estarão na comitiva oficial da viagem a Nova York, entre outros integrantes, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Bolsonaro e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Eduardo é cotado para ser embaixador do Brasil em Washington.

Crise ambiental

A estreia de Bolsonaro na ONU gera expectativa em razão da crise diplomática e ambiental provocada pelas declarações do presidente em meio à crise com o aumento das queimadas na Amazônia.

Nos últimos meses, o presidente fez declarações críticas à Alemanha e à Noruega e chegou a trocar farpas públicas com o presidente francês, Emmanuel Macron, que deixou em aberto uma possível discussão sobre status internacional para a Amazônia.

Macron chegou a anunciar a intenção do G7, grupo que reúne as sete principais economias do mundo, de destinar ao Brasil US$ 20 milhões, mas Bolsonaro questionou a motivação do envio e afirmou que o montante era uma “esmola”.

Bolsonaro chegou a afirmar, sem apresentar provas, que organizações não-governamentais (ONGs) estariam envolvidas nas queimadas na Amazônia a fim de desgastar o governo, declaração contestada por ambientalistas.