O ator Sérgio Mamberti morreu, aos 82 anos, na madrugada desta sexta-feira (3) em São Paulo. O artista estava internado em um hospital na capital paulista desde o sábado (28). A informação foi confirmada por um dos filhos do ator, Carlos Mamberti.
Sérgio estava intubado, com uma infecção nos pulmões. A morte se deu em decorrência de falência múltipla de órgãos.
Em julho deste ano, Mamberti havia sido hospitalizado para tratar de uma pneumonia e chegou a passa por uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Após cerca de 15 dias, se recuperou e teve alta.
Carreira
Sérgio Mamberti estudou na Escola de Arte Dramática (EAD), onde se formou em 1961. A estreia profissional nos palcos aconteceu com “Antígone América”, em 1962. Antes disso, no entanto, o ator sofreu uma espécie de crise ao participar de uma montagem no teatro Aliança Francesa, em São Paulo. O ator se sentiu impossibilitado de entrar em cena por achar que havia uma lâmina de vidro que impedia seu acesso ao palco. O problema foi resolvido com um chute no traseiro do ator, dado pelo diretor do espetáculo. Mamberti não se lembrava da peça ou do nome do diretor, mas do chute nunca esqueceu.
Em 1969, na montagem de “O Balcão”, Mamberti interpretou brilhantemente o personagem Juiz, e assim recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. “Conheci o dramaturgo Jean Genet [autor da peça] e recebi um elogio. Ele disse que, de todas as montagens de ‘O Balcão’ a que assistiu, o personagem do Juiz de que ele mais gostou foi o meu”, dizia o ator.
Mamberti também atuou em “Rancor”, peça de Otavio Frias Filho (1957-2018) , último trabalho dirigido no Brasil, em 1993, por Jayme Compri, diretor de teatro que morreu aos 33 anos em Londres. Depois, Mamberti brilhou em “Pérola”, o grande sucesso de Mauro Rasi (1949-2003), no qual contracenou com Vera Holtz durante cinco anos.
Como ator de televisão, Mamberti participou de muitas novelas de grande sucesso, como “As Pupilas do Senhor Reitor”, (1970); “Brilhante” (1981) e “O Clone”, (2001), além de “Sol Nascente” (2016), entre outras.
Quando gravou “As Pupilas do Senhor Reitor”, o ator lembrava que o elenco tinha em mãos os horários dos aviões que decolavam e aterrissavam no aeroporto de Congonhas para poderem gravar durante os espaços de silêncio. “O trabalho de TV é muito árduo, o glamour existe só para quem assiste”, dizia o ator que considerava Eugênio, seu personagem na novela “Vale Tudo” (1988), seu trabalho mais marcante no gênero.
No entanto, gostava de lembrar da fama conquistada pelo personagem Victor Astrobaldo Stradivarius Victorius II, o Dr. Victor da série infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, exibida na TV Cultura entre os anos de 1994 e 1997. “Visitei tribos indígenas e os indiozinhos me chamavam de tio Victor quando me avistavam. Nas ruas, sou reconhecido por muita gente, devido a este personagem”, dizia.
Na segunda metade da década de 1990, Sérgio Mamberti foi responsável pela programação e direção artística do pequeno teatro do hotel Crowne Plaza, em São Paulo, que difundiu talentos emergentes e novas experiências cênicas e musicais. Entre as atrações que despontavam para o mundo de amealhar os sons, estiveram lá Cassia Eller (1962-2001) e Zélia Duncan.
Cinéfilo assumido -dizia assistir uma média de 400 filmes por ano-, Mamberti afirmava haver qualidade no cinema nacional, mas não visibilidade, devido ao predomínio das produções norte-americanas. Segundo ele, o problema no Brasil não era produzir, e sim exibir, pois os filmes hollywoodianos tomam o lugar dos longas do país. Ponto de vista de quem também atuou em clássicos do cinema brasileiro, como “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), “Toda Nudez Será Castigada” (1973), “A Hora da Estrela” (1985), e “A Dama do Cine Shangai” (1987).
Com desenvoltura para atuar em gêneros tão distintos e no meio político e cultural, Mamberti não deixava de reconhecer a grande importância do público para o seu trabalho: “A gente [atores] faz tudo para vocês, porque são vocês o motivo de nossas vidas.”