Correio Braziliense – A insistência do presidente Jair Bolsonaro (PL) fazer uso político das Forças Armadas na guerra que declarou contra o Tribunal Superior Eleitoral é alvo de críticas dentro das instituições. Na última quarta-feira (16/2), o chefe do Executivo afirmou que as FAs teriam encontrado “diversas vulnerabilidades” nas urnas eletrônicas, o que foi prontamente desmentido pela Corte.
Bolsonaro se referiu às mais de 80 perguntas enviadas pelas Forças ao TSE, em dezembro, sobre o funcionamento das urnas eletrônicas e dos sistemas de segurança da Corte. Todos os questionamentos foram prontamente respondidos. E, diante da declaração do chefe do Executivo, o tribunal divulgou a íntegra das perguntas e das respostas.
Na quinta-feira (17/2), em seu discurso de despedida da presidência do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso, destacou que “as Forças Armadas estão aqui (na Corte) para proteger a democracia brasileira, e não para proteger um presidente que quer atacá-la”.
Ex-ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz afirmou que o chefe do Planalto tenta explorar o prestígio das Forças Armadas como se as instituições estivessem avalizando as coisas que ele fala para a população. “Sem dúvida, Bolsonaro explora as Forças Armadas para falar apenas com o eleitorado dele. Utiliza essa conversa fiada porque não tem capacidade de pensar nas soluções para os problemas do país. As atitudes dele são irresponsáveis. Além disso, a família dele foi eleita 19 vezes por esse sistema. Não seria prova o suficiente?”, declarou o general, recém-filiado ao Podemos, partido do presidencial Sergio Moro.
Santos Cruz, por sinal, considera “absurdo” as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparência Eleitoral do TSE. “É problema do Congresso, da Justiça eleitoral. O Exército faz a defesa nacional e, por ter um centro de defesa cibernética, pode prestar um auxílio técnico, mas não tem que dizer se é bom ou ruim. É só apoio técnico, e não faz parte de suas atribuições qualificar o processo eleitoral”, reprovou.
Outros militares que conversaram com a reportagem, sob a condição de anonimato, apontaram que as perguntas foram ligadas ao sistema de defesa cibernética e não existe nada anormal. “O Exército tem condições de realizar o auditamento das urnas. O Centro de Defesas Cibernéticas tem capacidade de ajudar nesse sentido. Por mais que pareça ter um caráter de monitoramento, o Exército apenas está cumprindo a função que lhe foi designada”, afirmou um dele. “É interesse do governo, apesar de abrir confluência, ter uma instituição como Exército referendando que as urnas são seguras.” O militar ainda frisou que as Forças Armadas estão, cada vez mais, buscando se descolar da imagem política e atuar como instituição de Estado.
Também faz parte da estratégia de Bolsonaro cooptar militares para sua base eleitoral. De olho nisso, o presidente trabalha com a possibilidade de o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, ser vice na chapa para as eleições de outubro. O general, no entanto, não é muito querido nos quartéis e seu nome não está entre os preferidos. Segundo apurou o Correio, membros das Forças não consideram Braga Netto “muito transparente”. Inclusive, quando assumiu o comando do Exército, teria dado “muita sorte”, pois não estava entre os mais cotados dentro da instituição. Além disso, ele não seria cordial com os de patentes mais baixas. “Outros que estão no governo, como o general (Luiz Eduardo) Ramos, ou general (Augusto) Heleno, são mais queridos”, frisou. O militar ainda falou o nome de Santos Cruz, que “tem muita honra”.