Um político de gestos e couro de elefante

Magno Martins

A política se faz com gestos. Severino Cavalcanti, que morreu na última quarta-feira, aos 89 anos, passou a vida inteira fazendo e retribuindo gentilezas. Podem atirar pedras nele. Qual político que não erra? Mas Zito, apelido dado pelos amigos de infância, viveu para construir pontes e viadutos de boas amizades.

Passei a admirá-lo por dois motivos: sabia reagir com humildade às críticas disparadas e cultivava um grande amor à família e à terra natal, como eu. Castiguei o lombo dele com muita assiduidade. Às minhas batidas, reagia como todo político sábio deveria fazer: ligava e pedia espaço para sua versão. Os filhos dele, herdeiros na política, José Maurício, Ana e Catarina, se estressavam muito mais do que ele. E não conseguiam entender o respeito dele a mim.

Presidente da Câmara, o primeiro jornalista que Zito recebeu para um café da manhã na residência oficial em Brasília, no Lago Sul, fui eu. Nenhum jornalista nacional tinha acesso ao seu gabinete como eu. Os seguranças já me conheciam. Nas grandes crises e polêmicas que Severino se envolveu arrebatei declarações exclusivas.

Certa vez, morri de vergonha. Plantado no gabinete da Presidência da Câmara junto com um batalhão de jornalistas a espera de uma coletiva com Severino, um segurança me pegou pelo braço e me levou até o gabinete dele, sob o olhar enviesado indignado dos jornalistas.

Ali, enquanto os coleguinhas quaravam na espera, Severino gravava uma exclusiva comigo. Quando os demais coleguinhas adentraram no gabinete, ele me deixou mais envergonhado ainda. Ao pedir perdão, apontou pra mim e disse: “Desculpem, mas esse jornalista aqui é a caneta mais implacável de minha terra. Por isso, falo primeiro para ele”.

Ah, só Severino mesmo! Esta foi uma das últimas fotos que apareço ao lado dele, do filho Zé Mauricio e do ex-presidente da Câmara de João Alfredo, Wilson França, que considerava Zito um pai.