Tarcísio é enxotado pelos radicais do PL ao pedir voto para reforma

Correio Braziliense/  Fábio Grecc/ Rafaela Gonçalves – Depois de costurar um acordo com o Ministério da Fazenda para aprovar a reforma tributária, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi hostilizado, nesta quinta-feira, na reunião do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando tentava convencer os parlamentares da legenda a votar favoravelmente à matéria. No momento em que defendia a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), foi hostilizado e interrompido diversas vezes, até que o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, precisou intervir.
A atuação de Tarcísio a favor da reforma foi fundamental para quebrar as resistências de outros gestores estuaduais à matéria — conseguiu aglutiná-los para que pudessem pressionar as respectivas bancadas pela aprovação. O governador procurou o PL, que tem 99 deputados, para tentar convencê-los da importância da reforma e da necessidade de se alterar o confuso padrão tributário brasileiro. Isso porque Bolsonaro orientou que seus aliados radicais a votarem contra o texto apresentado pelo relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Visivelmente irritado com Tarcísio por causa das imagens que circularam na imprensa, na qual o governador aparece ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o ex-presidente deu a senha para as hostilidades a seu ex-ministro da Infraestrutura. Logo de início, disse que “todo mundo aqui sabe que o Tarcísio não entende de política”.
O governador tentou contornar o mal-estar que se formava ao enfatizar que a direita precisa discutir a reforma. “Não podemos perder a narrativa. A direita não pode perder a narrativa de ser favorável à reforma tributária. Senão, ela acaba sendo aprovada, e quem aprovou?”, questionou, insinuando que a base governista levaria sozinha o crédito pelo novo regime tributário.
Bolsonaro interrompeu Tarcísio e disse que “se o PL estiver unido, não aprova nada”. O ex-presidente lembrou, ainda, que os parlamentares do partido e ex-ministros foram eleitos com seu apoio. “Muita gente ficou chateada com o Tarcísio, até eu. Mas vamos conversar, pô. Conversei com ele. Quem era o Tarcísio? O Tarcísio não queria ser candidato. Eu o convenci com um argumento, que só posso falar se ele me autorizar, e ele se convenceu”, disse.
E continuou: “Podemos citar nomes aqui, com todo respeito ao (senador Rogério) Marinho, como é difícil uma eleição nos nove estados no Nordeste, uma eleição majoritária como foi a do Senado. Ele tem o mérito dele, mas o povo reconheceu o valor de direita no Brasil. Quem era, com todo respeito, na política (o hoje senador) Jorge Seif?”, disse, referindo-se ao ex-secretário nacional de Pesca e Aquicultura.
Fidelidade
Depois de insinuar que o governador lhe devia fidelidade e que, independentemente de a reforma interessar a São Paulo, Bolsonaro continuou tentando rotular as alterações no escopo tributário nacional como sendo uma iniciativa de interesse direto do PT. “Não queremos, nesta proposta que está aí, dizer que vai ser melhorada por emendas. Não tem garantia nenhuma de aprovação. O que o Tarcísio está expondo, e eu conversei longamente com ele, é sobre essas possíveis emendas entrarem agora no corpo da PEC”, afirmou.
O governador ainda tentou ponderar com a plateia depois das críticas de Bolsonaro, mas não conseguiu. Foi vaiado e ouviu cobranças sobre o apoio que garantiu à reforma — um dos mais exaltados era o ex-secretário nacional de Cultura, o hoje deputado Mário Frias (SP). A partir dali, percebeu que a tentativa de fazer com que os parlamentares do PL mudassem de ideia não surtiu o efeito desejado.
“Tudo bem, gente. Se vocês acham que a reforma tributária não é importante, não vota, pô!”, lamentou, retirando-se pouco depois.
Tarcísio tornou-se uma das principais peças da reforma tributária nos últimos dias, quando desembarcou em Brasília, no começo da semana, para articular com o governo e com o relator, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), alterações e inclusões no texto. Além de aglutinar outros governadores, sua atuação ganhou ainda mais força depois que a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) divulgou, na quarta-feira, um manifesto coassinado por outras 130 entidades apoiando a reforma.
Haddad classificou o encontro com Tarcísio como um debate sobre uma questão relevante. “Não estamos discutindo política miúda. Até porque os impactos dessa reforma serão por décadas. Política de Estado tem que estar em outra prateleira. Tem que inspirar a classe política a buscar entendimento”, disse o ministro.