Sergio Moro e Bolsonaro disputam bandeira do combate à corrupção

Carol Brito/Blog da Folha
Por meio de um discurso gravado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que a luta contra a corrupção é uma “prioridade permanente” da sua gestão, além de dizer que o respeito aos direitos humanos é “um valor inerente ao governo brasileiro”. As manifestações do presidente ocorreram durante a Cúpula pela Democracia, evento organizado pelo presidente do Estados Unidos, Joe Biden. “Esta é uma oportunidade para renovar, no mais alto nível, nosso compromisso com o mundo, com a defesa da democracia, o combate à corrupção e a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”, disse Bolsonaro ao abrir o seu discurso. 
Sem citar nomes ou gestões, garantiu que, diferente do que aconteceu em “anos anteriores”, não há denúncia de corrupção contra o seu governo. “A luta contra a corrupção também constitui prioridade permanente, tanto é que estamos completando três anos sem uma denúncia sequer contra o nosso governo, ao contrário do que ocorria em anos anteriores”, disse o presidente, a despeito das investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal no contexto da compra da vacina indiana Covaxin.
Rival de pauta
A pauta anticorrupção é justamente o “carro-chefe” de Sergio Moro (Podemos), ex-ministro de Bolsonaro, e, ao que tudo indica, rival do presidente na corrida ao Palácio do Planalto, sobretudo na busca pelo eleitor de direita. Moro tem a missão de “capturar” parte do eleitorado de Bolsonaro (PL) para conseguir se viabilizar como um nome concreto na disputa. 
Migração
Parte da sua estratégia é se consolidar como o candidato dos bolsonaristas arrependidos e, dessa forma, abrir um caminho para uma possível “migração” de mais adeptos de Bolsonaro que venham a se decepcionar com o presidente até outubro de 2022. 
No evento de lançamento do seu livro, realizado no último domingo, no Recife, ele já fez uma sinalização nesse sentido. Reclamou de quem trata “quem votou no presidente atual como uma espécie de cúmplice do que aconteceu depois”. Moro defendeu os eleitores de 2018 do presidente: “As pessoas tinham expectativa, tinham esperança de mudança”, mas frisou que “isso, contudo, não aconteceu”.  
Discurso
“Talvez Moro possa utilizar como argumento que se empenhou no combate à corrupção, mas não deixaram que ele fosse efetivo e isso cai no colo do presidente Bolsonaro”, pontua o cientista político  Antônio Lucena. Ele frisa que, apesar de todos serem contra a corrupção, Moro tenta se apropriar da pauta. “E como já houve caso de corrupção no governo Bolsonaro, como na questão da Covaxin, Moro pode usar isso como trunfo e conseguir boa parte do eleitorado arrependido, quem votou em Bolsonaro contra o PT, mas se arrependeu”, diz o professor. 
Conexão
“Moro tenta fazer conexão com o eleitor de 2018. Trazer 2018 para 2022, capitanear esse sentimento presente na sociedade na conjuntura do antipetismo, combate à corrupção, bandeiras que acabaram originando fortemente o bolsonarismo que a gente conhece hoje e que teve Moro como um desses elementos”, acrescenta Priscila Lapa, cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda. Ela crê que Moro busca “resgatar a credibilidade que o nome dele emprestava ao governo Bolsonaro”, para, ao menos inicialmente, “impactar as intenções de voto de Bolsonaro”.