Recife: a sangrenta eleição de 1985

Edmar Lyra

O ano de 1985 foi marcado pela emenda constitucional que possibilitaria a volta das eleições diretas nas capitais, fato que não ocorria há duas décadas. Naquela ocasião, os prefeitos eram nomeados pela ditadura militar, no Recife o prefeito era Joaquim Francisco.

Com a volta do exílio, Miguel Arraes não considerou a hipótese de disputar o Recife porque desacreditava que houvesse chances de ser aprovada uma eleição direta, então Jarbas Vasconcelos, na época deputado federal e impulsionado pelos 93 mil votos recebidos na eleição de 1982 teve informações de que prosperaria a volta das eleições diretas e se colocou como opção para a disputa.

O então deputado federal Sérgio Murilo venceu as prévias contra Jarbas Vasconcelos no MDB, reeditando a aliança que levara Tancredo Neves e José Sarney à presidência da República através do colégio eleitoral numa disputa contra Paulo Maluf.

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Sem o apoio do seu partido, Jarbas deixou a sigla juntamente com Miguel Arraes e Pelópidas da Silveira para ingressar no PSB e disputar a prefeitura. Também foram candidatos o então vereador João Coelho pelo PDT, Roberto Freire pelo PCB, Augusto Lucena pelo PDS e Bruno Martiniano pelo PT.

A eleição ocorreu em 15 de novembro de 1985, mas até lá o Recife conheceu uma das disputas mais agressivas da história. A polarização entre Sergio Murilo e Jarbas Vasconcelos se manteve durante o processo eleitoral, até que o então deputado Carlos Lapa fez uma denúncia contra Sergio Murilo de que ele havia matado uma pessoa. Com o acontecido, apoiadores de Jarbas espalharam pela cidade panfletos apócrifos chamando o candidato emedebista de assassino. Este episódio permitiu que Jarbas crescesse na disputa e tivesse chances reais de vencer a eleição.

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A campanha de Sergio Murilo decidiu contra-atacar com uma suposta denúncia de que Jarbas Vasconcelos havia agredido seu pai em Vicência. Uma carta, supostamente assinada pelo pai de Jarbas, dirigida ao ex-governador Moura Cavalcanti, denunciando a suposta agressão, foi explorada na campanha, porém sem sucesso porque havia pouco tempo para a disputa.

Com a eleição radical entre Jarbas e Sergio Murilo, o vereador João Coelho cresceu significativamente durante a eleição e consolidou-se como terceira via, porém não conseguiu quebrar a polarização da disputa que viria a eleger Jarbas Vasconcelos prefeito do Recife.

Como a eleição não tinha segundo turno, Jarbas obteve 149.937 votos, ficando com 35,19% dos votos, contra 125.503 votos de Sergio Murilo, equivalente a 29,45% dos votos. João Coelho chegou a 99.635 dos votos e 23,39%. Os demais candidatos, Augusto Lucena, Roberto Freire e Bruno Martiniano, somados, atingiram 11,97%.