Diário de Pernambuco
A professora pernambucana Mirtes Ramos dos Santos Melo, da Creche Municipal João Eugênio, localizada no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, é uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10, maior e mais importante prêmio da educação básica brasileira. O resultado foi divulgado, ontem (20) durante o programa Encontro, da TV Globo. Mirtes e outros nove professores brasileiros ganharam um vale-presente no valor de R$ 15 mil. Ela segue na disputa pelo título de Educador do Ano.
“O prêmio é maravilhoso. É o reconhecimento de uma trajetória profissional que está sendo construída há muito tempo. É o reconhecimento de um coletivo, porque eu não cheguei aqui sozinha. Durante toda a trajetória tive muitos professores: os meus pais, as crianças que brincaram comigo na infância, os jovens, adultos e idosos que estudaram comigo, as famílias dos alunos, os professores e diretores que trabalharam comigo”, diz a professora. “Foi um trabalho feito a muitas mãos.”
Mirtes, que concorreu com cerca de 4 mil educadores, trabalha com crianças de 2 a 3 anos e percebeu o encantamento delas diante de materiais simples dispostos de forma convidativa à interação. Papéis e caixas foram os primeiros elementos na sequência de atividades semanais planejada pela professora, que preparou uma instalação na sala com papéis higiênicos pendurados no teto. A brincadeira de puxar, pular e olhar para cima começou. Quando tudo veio ao chão, algumas crianças se enrolaram tal qual esculturas vivas de papel, enquanto outras observavam pelo buraco do cone de papelão.
Panelas, copos, colheres de pau e bule estimularam batucadas na sala ou viraram utensílios no parque – ali descobriram que as tampas apertadas na areia formam desenhos inusitados. Flores e frutas, como as do jambeiro da creche, se tornaram tema de investigação. As crianças ainda exploraram o corpo e o movimento correndo entre lençóis, brincando com bacias e sacos com água. Coisas simples, mas que abrem muitas possibilidades de experimentação. “A vivência das crianças de entrar, sair, rasgar, puxar, sentir o leve, o pesado, perceber que com ajuda do colega conseguiam resolver situações, me deram a certeza de que movimento também é pensamento, é aprendizagem”, afirmou a professora. “O que me inspirou a ser educadora foi, entre outras coisas, gostar de crianças. Penso que para passar aos meus alunos o gosto pelo aprendizado tenho que me colocar também como aprendiz, valorizando aquilo que eles já sabem. Eles sabem muito. Sendo companheira, eles vão longe”, contou Mirtes.
Além de Mirtes, outros nove educadores que desenvolveram experiências pedagógicas de destaque nas escolas em que trabalham foram escolhidos entre quase 4 mil inscritos pela Academia de Selecionadores – composta por grandes especialistas em didáticas específicas, pesquisadores das principais universidades do país, orientadores de graduação e pós-graduação, além de formadores de gestores e de professores em suas respectivas disciplinas. Além de Pernambuco, os vencedores representam Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo.
Dos 10 projetos campeões, cinco são trabalhos realizados com alunos do ensino fundamental (somando anos finais e iniciais), três com turmas do ensino médio, um de gestão e outro com crianças bem pequenas. Já entre as disciplinas, são dois projetos de língua portuguesa, um trabalho de gestão escolar e um com crianças bem pequenas. Completam a lista iniciativas de artes, educação física, filosofia, matemática, geografia e física.
Apesar do reconhecimento vindo do prêmio, Mirtes também aponta obstáculos enfrentados pelos educadores do país. “Temos formações de qualidade, e isso é uma valorização, mas penso que aplicar a lei do piso, o percentual estipulado pelo Governo Federal, para todos os professores da rede, e não apenas para minoria, vai nos valorizar ainda mais”, comenta. “A educação precisa ser valorizada com salários dignos – o Governo Federal precisa resolver essa questão do FUNDEB-, formação de qualidade, escolas com infraestrutura decentes, investimento em tecnologias, garantir vagas para todas as crianças inclusive nas creches.”
Com a quarentena, a professora Nota Dez precisou se afastar dos seus alunos. A falta das leituras e brincadeiras tem pesado. “A Pandemia esta me fazendo sentir uma saudade enorme. Saudade dos meus pequenos, tentamos amenizar com algumas mensagens no Whatsapp, mas não é a mesma coisa. Saudade do que vivemos, e do que não vivemos. Semanalmente estamos em contato para não perdermos os vínculos”, diz Mirtes.
Sobre o prêmio
O Prêmio Educador Nota 10 foi criado em 1998 pela Fundação Victor Civita que, desde 2014, realiza a premiação em parceria com Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho. O prêmio reconhece e valoriza professores da educação infantil ao ensino médio e também coordenadores pedagógicos e gestores escolares de escolas públicas e privadas de todo o país.
Ao longo das 22 edições anteriores, foram premiados 281 educadores, entre professores e gestores escolares, que receberam aproximadamente R$ 2,85 milhões em prêmios no total. A premiação tem o patrocínio da Fundação Lemann, Somos Educação e BDO e o apoio de Nova Escola, Instituto Rodrigo Mendes e Unicef. Desde 2018, é associado ao Global Teacher Prize, prêmio internacional de educação, realizado pela Fundação Varkey.