Pernambuco tem final de semana com medidas mais rígidas

Folha de Pernambuco
Pernambuco entra neste fim de semana em uma nova fase de medidas mais restritivas na tentativa de conter o avanço da Covid-19 no Estado. Neste sábado e domingo e no próximo (13 e 14) apenas serviços essenciais podem funcionar. Está proibida, assim, a abertura de shoppings centers, comércios de rua, academias, clubes sociais, igrejas e tempos religiosos. Bares e restaurantes estão liberados apenas com sistemas de retirada de pedidos no local ou delivery. Parques também devem estar fechados e nas praias está permitida apenas a prática individual de atividades esportivas.
As regras mais rígidas chegam em um momento em que os sistemas público e privado de saúde alcançaram mais de 90% de sua capacidade. “No País inteiro, a atual situação da pandemia é gravíssima, com recordes diários no número de novas mortes. E esta realidade, infelizmente, está chegando a Pernambuco. Na última semana, detectamos uma importante piora no cenário epidemiológico, com uma rápida aceleração da doença, que provocou grande pressão na rede de saúde”, comentou o secretário de Saúde do Estado, André Longo.
Entre as atividades essenciais que podem seguir sua programação aos fins de semana estão supermercados, padarias, farmácias, postos de gasolina, repartições públicas, clínicas e laboratórios, além de serviços de abastecimento de água, energia, telecomunicações e internet.
As escolas que estão em funcionamento não foram afetadas pelo decreto do Governo de Pernambuco. “As escolas são ambientes seguros para esses jovens, muito mais do que as baladas, os veraneios, as casas de praia”, afirmou Longo. “A educação, hoje, mais do que nunca, tem um papel fundamental para os jovens. Devemos preservar essa atividade até um lockdown definitivo que precise parar todas as atividades, pode ser que cheguemos a isso”, acrescentou. Somente as unidades da rede municipal, com ensinos fundamental e infantil, tiveram a abertura adiada para a partir de 18 de março.
Para o epidemiologista Jones Albuquerque, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o momento já seria indicado para medidas ainda mais rígidas. O Estado registrou, sexta, 1.588 casos de Covid-19 e 29 óbitos. Tudo indica, analisa, que as três próximas semanas serão ainda mais críticas. “A gente pode entrar em um possível colapso se a população não ajudar, como não vem ajudando, e ele [governo] terá que impor medidas mais rígidas ainda”, disse.
Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde estimou até 3 mil mortes diárias por Covid-19 no País. “Todos os estados da federação, porque a pandemia está síncrona no mundo todo, vai acompanhar a mesma escala. Ou seja, a gente deve duplicar de números. Então, será que em Pernambuco, a gente vai voltar para aqueles patamares de 80 óbitos, 90 óbitos por dia?”, analisa Jones Albuquerque.
Segundo ele, um lockdown total ajudaria a salvar aproximadamente 80% de pessoas que podem vir a ser vitimadas pelo coronavírus. “O que a gente precisa agora é frear a infecção e não o óbito, porque o óbito é uma consequência de três semanas de infecção, infelizmente. Se a gente não quer ter um cenário triste em três semanas, a gente deveria frear tudo agora”.
Fiscalização
Para assegurar o cumprimento das medidas restritivas deste e do próximo fim de semana, os municípios vão deslocar agentes específicos para atuar na fiscalização. De acordo com a Prefeitura do Recife, 65 profissionais do órgão darão apoio à Polícia Militar nas orlas do Pina e de Boa Viagem. O efetivo envolve servidores da Guarda Municipal, Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) e Vigilância Sanitária, entre outros setores. Segundo a gestão municipal, os mercados públicos, considerados de serviços essenciais, funcionarão neste sábado das 6h às 13h, em razão da Data Magna. A Ciclofaixa de Turismo e Lazer, que costuma funcionar aos domingos, está suspensa, assim como o Jardim Botânico, que também não abrirá aos fins de semana do decreto.
Já a Prefeitura de Olinda designou mais de 40 pessoas de órgãos municipais para ajudar na fiscalização. Os agentes se unem ao efetivo da PM e atuam nas praias de Bairro Novo, Casa Caiada e Rio Doce. As praias de Del Chifre e Milagres estão a cargo da 1ª Companhia Independente de Apoio ao Turismo da Polícia Militar.
O Procon Pernambuco, por sua vez, conta com aproximadamente 40 agentes envolvidos nas fiscalizações das medidas restritivas. As denúncias de locais que estejam descumprindo as regras podem ser feitas por telefone (0800.282.1512), WhatsApp (81 3181.7000) ou Instagram (@proconpe). Casos as denúncias sejam referentes a festas privadas, em residências ou aglomerações em vias públicas devem ser enviadas à Polícia Militar no 190.  De acordo com o Procon-PE, também foi enviado para a Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) documento orientando que as prefeituras conveniadas, ou que tenham órgãos fiscalizadores como a Vigilância Sanitária e a Defesa Civil, reforcem a fiscalização nos seus municípios. 
Descuidos
Infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, Filipe Prohaska lamenta os descuidos de parte da população. “Nós sabemos que a situação atual é uma soma de fatores. As pessoas tentaram enfrentar o vírus. Não se cuidaram de forma adequada, sem usar máscara, sem manter o distanciamento, indo para ambientes com muita aglomeração como praias e parques. Tem acontecido também com frequência festas clandestinas. E aí, infelizmente, desde novembro que esses números vêm aumentando e só fizeram piorar agora, nesse mês de janeiro, que é considerado um mês de férias, e muitas pessoas estavam diminuindo mais os cuidados”, disse.
As novas mutações do vírus também preocupam: “O problema das novas variantes nesse momento é a velocidade de transmissão. Agora era a hora de estarmos com mais cuidados do que estávamos antes. Eu acredito que hoje é o momento mais difícil da pandemia, até o momento. Mas acredito que a gente vá ter outros ainda mais difíceis”.
Para o médico, é preciso que haja mais empenho no País para a campanha de imunização. “Nós sabemos que o Brasil é um país com mais de 200 milhões de habitantes. A vacinação precisa ser agressiva, precisamos de muitas milhões de doses para poder vacinar todo o Brasil. Nós precisamos acelerar o mais rápido possível [o processo de vacinação] para poder trazer mais segurança para todos nós”, afirmou.
Enquanto a vacina não chega para todos, garante, as medidas de prevenção são a melhor estratégia: “Ano passado, quando o distanciamento social, a higienização das mãos e o uso de máscaras estava sendo adequado, nós conseguimos diminuir os números do coronavírus. Tínhamos uma tranquilidade maior em retomar as atividades, mas infelizmente já nos feriados de setembro e outubro, as medidas começaram a ser quebradas, os casos começaram a aumentar a partir de novembro e agora, no início deste ano, eles simplesmente explodiram”.
O infectologista ressalta o desgaste entre os profissionais de saúde. “Todos estão muito cansados. Foi um ano muito difícil para todos nós. E depois de tudo o que a gente passou no ano passado, fragilizados física e mentalmente, a gente ver essa segunda onda é como todos os nossos pesadelos voltando à tona”. E faz um apelo à população: “Nós estamos chegando num ponto que não é mais ‘quem tem plano de saúde, quem não tem’, não é mais uma situação de que ‘eu tenho uma moradia melhor e você não tem’. Nós estamos todos expostos ao vírus, independente de raça, cor, dinheiro ou questão social. Não é mais uma questão individual, é uma questão de coletivo, não só nosso, não só da nossa família, mas de todas as pessoas que aqui residem”.