O Globo – Internada desde o dia 11 na Rede Primavera Saúde de Aracaju com problemas renais, a cantora Paulinha Abelha, da banda Calcinha Preta, segue em unidade de terapia intensiva. De acordo com um boletim médico divulgado ontem, 20, ela enfrenta um “quadro neurológico grave”. Isso significa que a cantora tem uma lesão cerebral importante (coma profundo), mas não irreversível.
O boletim ainda informa que ela se encontra em “suporte ventilatório”, algo comum em quem tem quadro neurológico grave, conforme explica o médico Miguel Graciano, responsável pelo serviço de nefrologia da Casa de Saúde São José, professor de medicina da UFF e doutor pela USP.
— Nesses casos, o paciente precisa de um respirador, pois não consegue puxar o ar sozinho — diz Graciano. — É o mesmo que é usado para tratar quem tem doença no pulmão por Covid. O ar pode ser entregue tanto por um tubo quanto por uma traqueostomia.
O boletim informa ainda que ela segue sem necessidade de drogas para manutenção de vida – o que, para Graciano, pode significar que Paulinha não esteja precisando de remédios para manter a pressão arterial.
Paulinha foi internada com problemas renais. Três dias depois, o quadro se agravou e ela foi transferida para a UTI, quando passou a fazer diálise, um procedimento que consiste em remover as substâncias tóxicas que ficam retidas no organismo quando os rins deixam de funcionar adequadamente. Na quinta-feira (17), veio a notícia do coma.
— O rim tem várias funções, como controlar a acidez resultante do processamento pelo corpo dos alimentos que ingerimos — diz Graciano. — A diálise substitui essas funções quando o rim falha. Ela filtra o sangue de toxinas e mantém o equilíbrio de água e de sais. Se a pessoa bebe 1 litro de água por dia, o rim elimina esse litro para não ficar acumulado através da urina. Se a pessoa não está urinando, esse volume é removido graças à diálise.
Após ter uma doença que atinge o rim, o órgão pode se regenerar completamente. Em muitos casos, ela não precisará continuar fazendo diálise. Em outros casos, mais graves, pode continuar fazendo o procedimento por um tempo ou até definitivo.
Ainda que seja raro, o mau funcionamento do rim pode levar ao chamado “coma urêmico”. Quando realizada a tempo, porém, a diálise normalmente evita complicações deste tipo. Então, como uma lesão renal aguda pode ter evoluído para um quadro de lesão neurológica?
Uma possibilidade é que tanto a doença renal quanto o problema neurológico tenham surgido concomitantemente. Por exemplo, a cantora pode ter sido vítima de uma infecção que se espalhou pelo corpo. É possível, inclusive, que essa infecção tenha origem no próprio rim.
— O paciente pode ter uma infecção urinária, que se espalhou causando inflamação no corpo e atingindo de volta o rim, fazendo ele parar de funcionar — diz — Graciano. — A mesma inflamação pode atingir o cérebro.
Um boletim divulgado no sábado, porém, afastou a presença de “doenças infecciosas de interesse epidemiológico”. O fato da cantora estar sem febre indica que qualquer quadro infeccioso que tenha tido está mais controlado no momento.
É possível que Paulinha já enfrentasse um problema renal crônico antes da hospitalização, e a diálise não seja um fato novo para a paciente. Três dias antes da internação, a cantora relatou ter tido um mal-estar e desmaiado. Para Graciano, a causa da hospitalização pode ter sido um AVC ou outra doença mais rara.
— Ela pode ter uma doença imunológica rara que afete tanto o cérebro quanto o rim — diz Graciano.