Paudalho, a última estação (férrea)…

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A história de Terezinha Olindina Lima se confunde com a história da ferrovia do norte do Estado. Ela tinha apenas 28 anos e a roupa do corpo quando fugiu da sua casa em Mari, na Paraíba, para morar em Paudalho, na Mata Norte de Pernambuco.

A viagem foi feita por amor, com a intenção de viver com um rapaz que conhecera alguns meses antes na Igreja de São Severino dos Ramos, próximo ao centro da cidade. Depois de receber o perdão da família – solicitado incessantemente por meio de cartas emocionadas -, voltou ao estado vizinho para buscar seus pertences e regressou como passageira na última viagem que o trem fez, em 19 de fevereiro de 1977.

Depois da fuga, Terezinha viveu 28 anos com o tal rapaz. Pondera, sem culpa e sem pressa, se a aventura valeu a pena. “Só pelos filhos. Porque ele bebia demais”, conclui, finalmente. Por outro lado, tem cada momento da viagem gravado na memória. 

 Continua…

“Tinha planejado tudo, mas nem minha melhor amiga sabia. Fui para uma novena e depois passei para buscar um rádio no conserto que, além do meu álibi por não estar para casa, foi meu companheiro de viagem. Só que o trem, naquela noite, atrasou. Eu tive muito medo de alguém começar a me procurar, então peguei um carro para Sapé e fiquei esperando o trem por lá”, contou.

Atualmente com 67 anos, Terezinha trabalha como zeladora da Igreja Santa Tereza D’Ávila, a menos de 100 metros da estação que conheceu tão bem e hoje funciona como Secretaria de Turismo da cidade. 

“Era lindo quando o trem aparecia. Muita gente ia para ver quem estava chegando, porque, ao sair de Carpina, a parada anterior, o sino daqui tocava. Uns trinta minutos depois ele chegava. Quando fugi, desci na parada depois dessa e havia uma multidão de desconhecidos. No meio deles, estava meu futuro companheiro, que era só quem eu via.”

É muito provável que um dos desconhecidos na parada citada por Terezinha tenha sido Luís Matias Filho, 69. Desde os anos 1960 ele comanda uma mercearia de frente para a estação do Engenho dos Ramos. O cardápio hoje é o mesmo daquela época: inhame, cuscuz, macaxeira, galinha assada, guisado de boi e carne de sol.

O que mudou foi a clientela. Quando o trem parou de trazer passageiros, o movimento caiu e o empreendimento sobrevive com dificuldade. 

A estação do local era famosa por trazer os romeiros à Igreja de São Severino dos Ramos, onde Terezinha conheceu o marido. Matia era exceção. Ele embarcava no trem “feireiro” que vinha do centro e ia até Carpina uma vez por semana.

“As pessoas conheciam ele assim, porque todo mundo em Paudalho pegava no mesmo dia para ir a Carpina comprar mantimentos e voltar. Aqui não tinha nada, nem hospedaria. Quem chegava e se surpreendia com essa falta de infraestrutura era convidado a ficar na minha casa, onde comiam bacalhau e beiju.” (Folha de Pernambuco)