Para autor do impeachment de Dilma, Bolsonaro percorre o caminho de Maduro

Diário de Pernambuco/Correio Braziliense

O jurista Miguel Reale Junior, uma das pessoas que apresentou o pedido de impeachment que culminou com a saída de Dilma Rousseff da Presidência, afirmou, nesta quinta-feira (28), que, ao reagir de forma dura à operação da Polícia Federal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro produz uma “crise artificial” com outros poderes.

Na avaliação de Reale Junior, que fez a declaração em entrevista à rede de tevê CNN Brasil, Bolsonaro faz isso para justificar medidas cada vez mais autoritárias. Segundo o jurista, Bolsonaro tenta convencer a população de que está sob um ataque antidemocrático e que, por isso, tem o direito de reagir. 

“É o caminho do bolivarismo o que estamos assistindo”, alertou. O bolivarismo é o nome dado à doutrina seguida por alguns líderes latino-americanos e cujo maior representante hoje é o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Declarações após decisão de Moraes

Bolsonaro fez uma série de declarações após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizar, na quarta-feira (27), uma operação de busca e apreensão que mirou apoiadores do presidente que são suspeitos de disseminar fake news e realizar ataques virtuais à Suprema Corte.

Ainda na quarta-feira, o presidente disse, nas redes sociais, que a operação “é um sinal de que algo de muito grave está acontecendo com nossa democracia”. Em outra manifestação, o presidente escreveu: “Estamos trabalhando para que se faça valer o direito à livre expressão em nosso país. Nenhuma violação desse princípio deve ser aceita passivamente!”. Nesta quinta-feira, o presidente disse que não haverá mais ações do tipo. “Acabou!”, garantiu.

Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez outra declaração que sofreu críticas. Segundo o parlamentar, haverá uma “ruptura institucional” no país e disse que a situação podia levar o pai a tomar uma “reação enérgica”.

Nesta quinta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou as falas de pai e filho. Sobre o que disse o presidente, Maia considera que as falas “trazem insegurança”. Já a declaração de Eduardo, o presidente da Câmara classificou como “grave” e não descartou uma representação no Conselho de Ética da Casa. “Se algum partido entender que há um crime na frase dele, pode representar no Conselho de Ética”, orientou Maia.