Oposição protocola 75º pedido de impeachment contra Bolsonaro

Correio Braziliense
A oposição protocolou, ontem (31), mais um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, motivado pela troca no comando das Forças Armadas ordenada pelo mandatário na última terça (29). A interferência do chefe do Executivo começou com a troca de seis ministros do governo, na última segunda, incluindo Fernando Azevedo e Silva, da Defesa — que teria se recusado a alinhar as Forças Armadas aos interesses ideológicos do governo.
Na quarta-feira (30), Bolsonaro pediu, também, a demissão dos chefes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Isso, para a oposição, foi uma tentativa de cooptação das Forças Armadas. “Trata-se do fenômeno de tentativa de cooptação dos quartéis, incitando uma espécie de revolta natural de militares com o status quo, para que almejem a mudança e a ruptura da condução dos rumos da história”, diz um trecho do pedido.
No plenário da Câmara, o deputado Henrique Fontana (PT) falou sobre o pedido de impeachment e criticou a condução de Bolsonaro na pandemia e a atuação do presidente em relação às Forças Armadas. Durante sua fala, relembrou os 57 anos do golpe militar de 1964. Apesar de se revelar preocupado com a atuação do presidente, afirmou que considera positivo o fato de ele ter demonstrado suas verdadeiras intenções.
“Assistir, como assistimos ontem, ao pedido de demissão dos três comandantes das Forças Armadas do Brasil, de todos os brasileiros, foi um sinal que eu considero extremamente positivo. Porque a essa altura, ninguém duvida que a tentativa do presidente Bolsonaro de demitir o ministro da Defesa e de afastar e demitir os três comandantes das forças militares foi uma tentativa de cooptação das Forças Armadas”, disse.
Fontana afirmou também que o presidente boicota toda e qualquer medida para tentar conter a pandemia no Brasil e que o país está sem governo. “Bolsonaro, inclusive, dá sinais claros de desequilíbrio emocional. A crise militar que ele instituiu a partir de ontem se soma à maior crise sanitária da história do país e uma das maiores crises econômicas”, afirmou.
Ele também justificou a apresentação de mais um pedido de impeachment ao argumentar que a vacinação e o enfrentamento à pandemia são condições essenciais para a retomada da atividade econômica no país. O parlamentar afirmou, ainda, que o dever do parlamento é defender a democracia, e que Bolsonaro é um “serial killer de crimes de responsabilidade”.
“Por isso a oposição entra com o 75º pedido de impeachment. Não porque a oposição quer dividir o país. A oposição quer unir o país para superar as dificuldades. Quem desune o país e arruma conflitos, e vive da polarização conflituosa, é Jair Bolsonaro e seu governo”, completou.
Insensibilidade
A resposta veio logo em seguida, quando o deputado de Goiás, Major Vitor Hugo, líder do PSL na Câmara, tomou a palavra. Ele revelou que a base do governo recebeu com estarrecimento a nova investida da oposição contra o governo.
“Queria registrar nosso estarrecimento com a oposição, que é extremamente insensível com o momento que estamos vivendo aqui no país, em que o governo federal executa todas as ações necessárias para salvar vidas e preservar os empregos dos brasileiros”, disse.
Ele argumentou que a oposição tenta antecipar o embate eleitoral de 2022 ao protocolar um pedido de impeachment “sem qualquer fundamentação jurídica ou viabilidade política” no atual momento. O parlamentar afirmou, também, que acredita que esse, assim como os outros pedidos de impeachment, não deve prosperar.
“São dezenas de pedidos, todos inócuos. E temos certeza absoluta de que esse será mais um pedido de impeachment que não prosperará. Nosso presidente tem o apoio popular que foi conquistado nas urnas com mais de 57 milhões de votos”.
A presidência da Câmara já recebeu, desde o início do mandato de Bolsonaro, dezenas de pedidos de impeachment. Entre os motivos principais estão a condução desastrosa na pandemia, apoio a protestos com pautas antidemocráticas, ataques à imprensa, quebra de decoro, improbidade administrativa e tentativa de interferência ilegal em órgão independente, como a Polícia Federal.