Opinião: Raquel vai governar sob tensão

Por Magno Martins – Na posse, ontem, a governadora eleita Raquel Lyra (PSDB) voltou a insistir no discurso de união política para enfrentar e superar os desafios do seu governo de renovação. Mas, diferente de Lula, que montou um Ministério de coalizão, atendendo a todos os partidos que possam colaborar com a chamada governabilidade, a tucana seguiu um caminho oposto, não compartilhando a gestão com nenhum dos partidos aliados.
Raquel acha que governa sozinha, como fez em Caruaru. Autoritária, não é dada ao diálogo nem tem paciência para ouvir conselhos. Seria bom ler os conselhos de sábios, como Platão, que dizia que o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus. Não consigo entender como se governará sem amarras de natureza política. Ninguém consegue. Bolsonaro é o maior e mais recente exemplo disso.
No primeiro ano de gestão, ainda sem seu governo ser atrapalhado pela pandemia, foi à TV se gabar de que seu Ministério era técnico, não refém dos políticos. Deu no que deu! Animal político, ao ser eleito, Lula agradou a gregos e troianos. Todos os partidos bateram palmas para a competente articulação política que levou a cabo na distribuição dos gabinetes na Esplanada dos Ministérios.
Já Raquel, sem o braço da política, já foi derrotada na Assembleia antes mesmo de tomar posse. Como assim? Muitos haverão de perguntar, mas no apagar das luzes de 2022, os deputados tiraram R$ 90 milhões do orçamento de 2023, primeiro ano da tucana, para aumentar seus salários e os dos servidores da Casa. Priscila Krause, vice-governadora eleita, ainda na condição de deputada, só conseguiu arregimentar dois votos para aprovar o veto do governador Paulo Câmara, que queria agradar a sucessora.
Raquel precisa ler Confúcio, pensador e filósofo chinês. Segundo seus ensinamentos, que se perpetuam ano após ano, sempre atuais, um governo é bom quando faz felizes os que sob ele vivem e atrai os que vivem longe. Sem dividir o bônus, exigindo apenas o ônus, o resultado do governo que se inicia nunca chegará a lugar algum se não tiver a recompensa para quem ajudou, no caso as lideranças e partidos que deram os votos para Raquel no segundo turno.
Derrota na Assembleia – Ao rifar partidos e políticos do seu governo, a governadora Raquel Lyra atingiu em cheio a candidatura de Álvaro Porto à Presidência da Assembleia e pode ter inviabilizado seu projeto. Além de ser do PSDB, partido da sucessora de Paulo Câmara, Porto perdeu o discurso entre os seus pares de que, eleito, todos os integrantes da Casa terão nele a certeza de que a relação com o Governo será uma via de mão dupla. As chances de a oposição emplacar um presidente da oposição cresceram bastante.