Opinião: PSDB afasta-se do impeachment ,inviabilizando-o na prática…

chico_caruso_-_28-08-2015

Pedro do Coutto

Reportagem de Sílvia Amorim e Maria Lima, no Globo, e de Daniela Lima, na Folha de São Paulo, edições de quarta-feira, assumiram grande importância no atual momento político, porque, como está no título, revelaram o afastamento do PSDB do roteiro do impeachment como forma de saída para atual crise institucional brasileira. Destacaram o ponto de vista do senador Aloísio Nunes Ferreira, de São Paulo, revelado (e aceito) durante encontro que reuniu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin. As principais figuras do partido, portanto.

Tem lógica o posicionamento, principalmente depois que o vice  Michel Temer concretizou sua saída da articulação política do governo. Fosse outra a colocação do PSDB, pareceria à opinião pública que o impedimento de Dilma Rousseff, pelo menos no estágio atual, teria como motivação colocar o mesmo Temer na chefia do Executivo, substituindo a titular. Com isso, a iniciativa perderia a força natural de que necessita para um impacto de tal dimensão na vida nacional.

Paralelamente a esse aspecto, surgiria o obstáculo, difícil de transpor, de reunir dois terços dos votos no Legislativo para aprovar a proposição de caráter extremo, como aconteceu com Café Filho e Carlos Luz, em 1955, e com Fernando Collor de Melo em 1992. Se com o PSDB já era dificílimo alcançar aquela maioria, sem o PSDB tal hipótese torna-se impossível. O que, aliás, no fundo da questão, significa uma posição de coerência.

De coerência, como assinala a repórter Daniela Lima, na mesma edição de O Globo quando comentou o andamento do recurso desarquivado no TSE voltado para a difícil anulação das eleições presidenciais de 2014. Esta terceira matéria que cito é igualmente de extraordinária importância, analisando-se bem os fatos.

Continua…

CASSAÇÃO DE DILMA E TEMER

Afinal quem é o autor de tal representação? O próprio PSDB tentando afastar simultaneamente tanto Dilma Rousseff, quanto Michel Temer.

Assim, se deseja o afastamento de ambos, como votar pela queda da primeira, se isso acarretaria a ascensão do segundo à presidência efetiva da República? Tornar-se-ia uma contradição absolutamente profunda. Isso de um lado. De outro, se a legenda principal da oposição obtivesse êxito na matéria que tramita no tribunal Superior Eleitoral, assumiria a presidência da república o deputado Eduardo Cunha com a obrigação constitucional de convocar novo pleito dentro de 90 dias.

Um abismo institucional abrir-se-ia no Brasil. O tema reforça a certeza de que há necessidade, para se fazer análises políticas, de se ler e interpretar os dispositivos constitucionais e legais e distinguir os impasses e as contradições. Assim como acontece na própria vida humana.

POR ENQUANTO

Por esse motivo é que adquirem dimensão maior as reportagens publicadas no Globo e na Folha de São Paulo. Deslocaram a tese do impeachment do primeiro plano dos debates. Pelo menos até a votação final das contas de 2014 da administração Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União. Como sempre acontece, o quadro político colocará outros temas para o debate, porque isso faz parte dos múltiplos caminhos da política que direta e indiretamente se reflete no comportamento de toda população, inclusive englobando todas as classes sociais.

Processo que, de um modo ou outro, produz um cenário enorme no qual são julgadas as ações do governo e dos próprios políticos. Uma atmosfera decisiva, através da qual o país respira, pensa e extroverte suas emoções. Sem tal atmosfera não se revela e encontra qualquer realidade. Politica, eternamente, é uma ação concreta e coletiva.