Opinião – Por que motivo os jovens renunciam o direito de votar?

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É natural que as derrotas escorchantes de que fomos vítimas no futebol nos impeçam (mas só por algum tempo, assim espero) de enxergarmos outras bem piores do que as recém-vividas na Copa do Mundo. Em junho do ano passado, por exemplo, os protestos pacíficos ocorridos em todo o país pegaram de surpresa o governo da presidente Dilma Rousseff e reacenderam, em milhões de brasileiros (jovens, sobretudo), a esperança num futuro melhor. Todavia, pesquisas indicam que são poucos os adolescentes (entre 16 e 17 anos) que procuraram a Justiça Eleitoral com o objetivo de votar nas eleições deste ano.

Dentre as respostas dadas por alguns adolescentes, separei duas, que merecem nossa reflexão: “Não tenho a quem confiar o meu voto. Por isso, optei por não tirar o título”. Ou: “Não quero votar agora porque não acredito em candidatos que não venham do povo”.

A queda do interesse dos jovens pelo título de eleitor se iniciou a partir de 2006. Nessa época, os eleitores menores de 18 anos (ou facultativos) representavam 39% do seu total. Em 2010, o índice baixou para 32% e, em 2014, para 25%. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, que se funda em dados fornecidos pelo IBGE, hoje, o total de eleitores representa apenas um quarto da população nessa faixa etária. Pela primeira vez na sua história, o Brasil terá mais eleitores idosos (os que têm mais de 60 anos) do que com idades entre 16 e 24 anos.

DESINTERESSE

Afinal, por que motivo os jovens renunciam ao direito e, com certeza, ao dever (de cidadania) de votar? Os motivos constantes das respostas dadas pela maioria não serão os mesmos que estão na cabeça do eleitor brasileiro de modo geral, seja ele maduro ou velho? Ou há dúvida de que, nesse particular, estamos todos de pleno acordo?

Embora o desinteresse dos jovens pelo voto tenha se iniciado logo após a denúncia do mensalão (2006), o que, na verdade, desapareceu não foi a confiança na política, indispensável à sociedade humana, mas naqueles que a vêm exercendo de maneira incorreta.

Com exceções, há uma desconfiança generalizada de que não temos a quem confiar o nosso voto. Não acreditamos, enfim, na maioria dos candidatos às eleições no dia 5 de outubro de 2014.

ATORES IMPRESTÁVEIS

Vale dizer: os políticos (não todos, repito) têm sido atores imprestáveis de uma cena que se esgota a cada dia que passa, e com grande risco para o aperfeiçoamento do regime democrático. Ao alcançarem o limite máximo da desfaçatez, a paciência do povo se esgotou e deu no que deu.

Só que, sem a política e, por consequência, sem os seus atores, não haverá salvação para ninguém. Sem o voto, jamais se mudará o rumo que o atual governo deseja para o país. Ao que parece.

É isso – a indispensabilidade da política e dos políticos – que se deve incutir na mente dos jovens, que sofrem hoje, de fontes diversas, uma influência negativa e deletéria – a de que a democracia já não responde aos seus reclamos. E é preciso lhes dizer que a resposta à desconfiança nos políticos não pode ser a abstenção, o voto nulo ou em branco. Ao contrário, qualquer dessas opções poderá levar o país a descrer da liberdade – nosso único e confiável meio de salvação possível.

Haverá sempre alguém a quem confiar o nosso voto. A política, leitor, na prática, não diverge muito do que ocorre em qualquer setor da atividade humana, aqui ou neste contraditório mundo de Deus. Não nos iludamos! 

Por Acílio Lara Resende

(transcrito de O Tempo)