Opinião: A República de Caruaru

Por Magno Martins – Dez dias após o governador Paulo Câmara (PSB) se antecipar na divulgação dos nomes da sua equipe que passarão as informações sobre a situação financeira do Estado para a governadora eleita Raquel Lyra (PSDB), a vice-governadora eleita Priscila Krause (Cidadania) entregou, ontem, ao secretário da Casa Civil, José Neto, oito nomes que integrarão a equipe de transição do futuro governo.
Para quem conhece o estilo Raquel Lyra, especialmente os políticos de Caruaru, município que a tucana governou, nenhuma novidade. O resto do Estado que vai além de Caruaru, entretanto, nem acessando o Google conseguiu informações quanto ao currículo dos escolhidos. Todos, com exceção do jornalista Manoel Medeiros, assessor de imprensa de Priscila, e de Fernando de Holanda, que presidiu o Instituto Teotônio Vilela, serviram à gestão de Raquel em Caruaru.
Além disso, têm perfis técnicos e experiências de gestão circunscritas ao território administrativo da capital do forró. O resto do Estado tem todo direito, portanto, de entender que, a partir da escolha da equipe de transição, Raquel criou, na prática, a República de Caruaru. Não é exagero. Quando Fernando Collor, na formulação do seu Ministério optou por vários nomes alagoanos, a mídia nacional carimbou seu governo como a República de Alagoas.
Na campanha, Raquel usou Caruaru como modelo único e acabado de gestão. Natural que sua usina de ideias e projetos seja movida a partir de lá, mas Pernambuco, convenhamos, não é Caruaru. É um Estado complexo, formado por regiões as mais díspares. Não dá, por exemplo, para tratar o Sertão ou os Sertões, porque são diversos, como a Zona da Mata. Nem tampouco enxergar o caldeirão violento e de explosão social da Região Metropolitana do Recife com um binóculo a partir de Caruaru.
Os gargalos de Suape, por onde ainda há enormes e boas perspectivas de crescimento econômico, forçam uma compreensão que vai além da indústria do forró, do polo sulanqueiro ou até mesmo do turismo crescente em direção ao litoral Sul, com destaque para Porto de Galinhas e Carneiros. Mais preocupante do que isso são os nós políticos, que sempre travaram e atrasaram Pernambuco.
Na montagem da equipe de transição, com exceção de Priscila, não há um só político. E aí é onde mora o perigo. Raquel disputou o primeiro turno apenas com o apoio do Cidadania. Não conseguiu atrair outros partidos nem lideranças mais expressivas da oposição, que se dividiu. Na campanha de segundo turno engatou o discurso da unidade, mas na primeira decisão como governadora, mostrou que, politicamente, seu discurso ainda é uma mera retórica.
Vazio político – Como Lula, que faz uma transição com todos os partidos responsáveis pela sua apertada vitória contra Bolsonaro, Raquel poderia ter feito gestos com quem lhe deu a mão na largada. Deixou de fora, por exemplo, o deputado não reeleito Daniel Coelho, que esperava ser lembrado. Também não lembrou de ninguém ligado ao ex-senador Armando Monteiro, um dos primeiros a apoiá-la, nem tampouco de lideranças expressivas que reforçaram seu palanque no segundo turno, como Miguel Coelho.