O tom rosa da Câmara de Caruaru…

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As polêmicas são algumas de suas marcas registradas desde o seu primeiro mês na Câmara Municipal de Caruaru, no Agreste. O  visual impecável, com direito à maquiagem, brilho labial, camisas de tom preferencialmente rosa ou azul e sapatos sempre lustrosos também chamam a atenção por onde ele passa, principalmente nas sessões. Aos 27 anos, o vereador Jaílson Soares de Oliveira, mais conhecido como Jajá, é famoso em todo o município e sua popularidade já ultrapassou as “fronteiras” da região.

Nascido e criado no bairro de Petrópolis, próximo à Feira da Sulanca, é lá onde o vereador mora até os dias de hoje. Filho de um aposentado e de uma doméstica, ele possui sete irmãos, sendo quatro homens e três mulheres. Trabalhar faz parte da rotina desde os 12 anos, segundo ele, época em que começou a atuar no mercado têxtil da cidade. “Eu viajava para muitas cidades do país e já fui até ao Paraguai comprar mercadorias”, comenta o parlamentar, que, na adolescência, possuía quiosques na Feira da Sulanca e revendia as peças.

20141115002705876494eHomossexual assumido, Jajá se mostra tranquilo com relação à sua orientação sexual. Ainda na adolescência contou aos pais e, contrariando a lógica de que no interior o preconceito é mais forte, foi bem acolhido pela família.  No entanto, ele se considera vítima de preconceito na Câmara. “Quando eu chegava lá maquiado, de gravata de cor e cabelo pintado, muitos vereadores diziam que não era a maneira de um parlamentar se portar”, diz. “Eu rebatia, afirmando que esses detalhes não tirariam minha honra ou desmereceriam o meu trabalho”.

Continua…

O interesse pela vida pública surgiu em 2008. Entusiasta das campanhas políticas, Jajá foi incentivado pelos colegas que trabalhavam com ele na Feira da Sulanca. Ele imprimiu alguns folhetos com o a frase “Jajá vem aí”. Foi o primeiro passo para que ele se tornasse conhecido na cidade e, dois anos mais tarde, conquistasse 1.363 votos.

Em seu primeiro mandato, Jajá faz parte da bancada de oposição ao prefeito José Queiroz (PDT) e alega sofrer perseguição política na cidade. Por isso, possui seis câmeras instaladas em frente à sua residência, que possui quatro cômodos. “Hoje eu tenho mais inimigos do que amigos políticos”, declara. 

Além das polêmicas envolvendo a forma de se vestir ou os embates políticos, Jajá foi preso duas vezes no ano passado. Em julho, foi acusado de receptação ao adquirir um veículo roubado. No fim do ano, ele foi um dos dez vereadores presos na Operação Ponto Final, que investiga um suposto esquema de corrupção na Câmara Municipal. O parlamentar se considera inocente das duas acusações e atribui o envolvimento nos escândalos aos seus adversários políticos. No início do ano, uma foto íntima dele foi publicada na internet. “Meu aparelho havia sido roubado quatro meses antes”,  justifica o parlamentar.

A polêmica mais recente protagonizada por Jajá ocorreu no início de novembro, quando ele sugeriu, no plenário da Câmara, que todos os vereadores realizassem, juntos, o exame de toque para prevenir o câncer de próstata, devido ao Novembro Azul (campanha de prevenção à doença). A sugestão foi rejeitada pelos vereadores e repercutiu bastante nas redes sociais.

Atualmente sem filiação partidária, o parlamentar pertencia ao PPS até o início deste ano, quando foi expulso devido ao envolvimento no escândalo junto aos outros vereadores.  Ele diz que já foi sondado por outros grupos políticos, mas que está trabalhando para retornar ao antigo partido e conquistar a presidência municipal da sigla.

Opiniões divididas
Com tantos episódios polêmicos no currículo, a atuação parlamentar de Jajá divide opiniões entre os moradores de Caruaru. Enquanto alguns o consideram um bom vereador, outros acreditam que a forma como ele se veste demonstra uma falta de comprometimento com a tarefa de fiscalizar o Poder Executivo e de defender os interesses da população, além de não conhecerem projetos de sua autoria. Seus companheiros da Câmara, no entanto, garantem que ele é um vereador atuante.

“Eu não tenho nada contra, mas ele leva tudo na brincadeira. Ele precisa ter uma postura mais séria. Acho que é apenas uma forma de ganhar dinheiro”, opinou a taxista Deyse Morais. O vigilante Rizomar Lima, por sua vez, diz que já ouviu falar no vereador. “É uma boa pessoa e um bom representante na Câmara”, afirmou, acrescentando, no entanto, que não tem conhecimento sobre os projetos de lei do parlamentar.

O presidente da Câmara, o vereador Leonardo Chaves (PSD), reconhece que Jajá é atuante, mas diz que ele comete os mesmos erros de qualquer legislador iniciante. “Ele se empolga demais e às vezes diz coisas que não deveria ser ditas na plenária”, diz. Na avaliação dele, caso Jajá seja reeleito, a tendência é que ele melhore sua postura na Câmara.

Líder do governo, o vereador Ricardo Liberato (PSC) deixou claro suas diferenças políticas com o colega de Casa. “Eu não compactuo com as metodologias utilizadas. Se ele acha coveninente o uso delas, não cabe a mim julgar, até porque ele é o responsável pelo próprio mandato”, comentou.  O vereador Gilberto de Dora (PSB) enxerga Jajá como uma pessoa “folclórica”. “Ele é divertido, dinâmico, muito comprometido com o mandato e tem se demonstrado um parlamentar dedicado naquilo que acredita e que faz”. (Diário de Pernambuco)