Morre aos 78 anos homem que viveu sete décadas dentro de um “pulmão de ferro” nos Estados Unidos

Agência O Globo – Paul Alexander, o homem que passou 70 anos dentro de um pulmão de aço, faleceu aos 78 anos de idadeem Dallas, no Texas. Ele foi obrigado a viver dentro da estrutura metálica de 272 quilos depois de ter poliomielite aos seis anos de idade. Conhecido como “Paul Polio” nas redes sociais, o homem contava com uma legião de seguidores que acompanharam sua evolução e doaram recursos para manter o equipamento funcionando.

Alexander ficou paralisado do pescoço para baixo desde 1952 devido à doença, o que o deixou incapaz de respirar por si só. Ele foi levado às pressas para o hospital no Texas após desenvolver sintomas e acordou dentro do pulmão mecânico.

A morte foi anunciada em sua página do GoFundMe. “Depois de sobreviver à poliomielite na infância, ele viveu mais de 70 anos dentro de um pulmão de aço. Nesse tempo, Paul foi para a faculdade, tornou-se advogado e autor publicado. Sua história viajou longe e influenciou positivamente pessoas ao redor do mundo. Paul foi um incrível modelo a ser lembrado,” disse Christopher Ulmer.

A poliomielite, ou pólio, é uma doença incapacitante e potencialmente fatal causada pelo poliovírus. O vírus se espalha de pessoa para pessoa e pode infectar a medula espinhal, causando paralisia e dificuldade para respirar. Ele passou por uma traqueotomia de emergência e foi colocado em um pulmão de aço para ajudar seu corpo a combater a doença.

O que é um pulmão de ferro?
De acordo com informações do Museu da Ciência, no Reino Unido, o pulmão de ferro é uma enorme caixa de metal desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que se tornou necessária quando a pólio começou a atingir proporções epidêmicas nos anos 1900, chegando ao pico de 57,6 mil casos em apenas um ano nos EUA, em 1952.

Isso porque uma das consequências graves da infecção pelo vírus, que na época não podia ser prevenida com a vacina, é a paralisia muscular. Quando essa paralisia atingia os músculos do peito, o paciente passava a não conseguir respirar, o que o levava à morte.

Para salvar o paciente, o pulmão de ferro foi desenvolvido: uma câmara hermética em que o paciente fica deitado apenas com a cabeça para a fora. A máquina bombeia o ar para dentro e para fora, fazendo com que a pessoa respire por meio de um método de respiração artificial denominado Ventilação Externa com Pressão Negativa (ENPV).

Isso é possível porque, conforme a máquina suga o ar para fora, e a pressão dentro da caixa cai, e os pulmões do paciente se expandem automaticamente, puxando o ar de fora pelo diafragma. Já quando o aparelho permite a entrada do ar de volta na câmara, a mudança na pressão comprime o pulmão levando-o a se esvaziar.

Um dos maiores problemas, porém, é o tédio. O pulmão de ferro conta com um espelho em cima da cabeça do paciente para que ele consiga ver o que está ao redor. A boa notícia é que a maioria dos pacientes só usou o aparelho durante algumas algumas semanas ou meses, dependendo da gravidade da paralisia.

Mas há alguns que, como Paul, ficaram com os músculos do peito permanentemente paralisados enfrentando uma vida inteira de confinamento. O americano chegou a aprender uma técnica chamada de “respiração de sapo”, que envolve engolir o ar usando os músculos da garganta para forçá-lo para os pulmões, o que permitiu que ele saísse da máquina primeiro por apenas cerca de 3 minutos no início, depois por alguns períodos um pouco mais longos, embora nunca um dia inteiro. Porém, aos 74 anos, precisou retornar em tempo integral.

Além disso, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, ele disse que, na época em que começaram a surgir modelos de ventilação mais modernos, ele já estava adaptado ao pulmão de ferro, conseguindo passar alguns momentos fora do aparelho, e que não queria ser submetido a procedimentos invasivos necessários nos equipamentos mais modernos.

Os pesquisadores imaginavam que ele fosse a última pessoa no país ainda vivendo num pulmão de ferro. Em 1939, os EUA chegaram a ter cerca de mil pacientes nos aparelhos. Porém, o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a pólio, que levou a doença a ser erradicada de diversos países, e o avanço de sistemas de ventilação mecânica levaram ao fim do uso nas últimas décadas.