FolhaPress
Sergio Moro diz que perdeu a confiança em Jair Bolsonaro no dia 22 de janeiro de 2020, pouco depois de completar um ano à frente do Ministério da Justiça, ao saber pelas redes sociais que o presidente cogitava retirar os assuntos da segurança pública da sua área de influência.
“Se a pasta fosse dividida, não continuaria no governo de jeito algum”, ele afirma ao narrar o episódio em “Contra o Sistema da Corrupção”, que chega às livrarias nesta terça (30). “Também concluí que ele simplesmente não confiava em mim e não desejava a minha presença no governo.”
Moro saiu três meses depois, em meio a um desentendimento causado pelas pressões de Bolsonaro para que o comando da Polícia Federal fosse trocado, e boa parte do livro é dedicada aos esforços do ex-juiz da Lava Jato para explicar por que demorou tanto tempo para pedir demissão.
O ex-ministro diz que seu objetivo era proteger a PF contra as tentativas de interferência do presidente, mas sua crônica sugere que as diferenças entre eles surgiram muito antes e mostra que as situações em que Moro se recolheu foram mais numerosas do que aquelas em que desafiou o chefe.
Ele conta que, quando surgiram os primeiros indícios do envolvimento da família de Bolsonaro com o esquema das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio, semanas antes da posse, achou as explicações de Bolsonaro satisfatórias e não viu sinal de que ele quisesse obstruir o inquérito.