Aos 94 anos, o morador de Cachoeira do Sul Simão Sklar colou grau no último sábado (12), em um auditório lotado no município da Região Central do Rio Grande do Sul. Diante dos 31 colegas, ele recebeu das mãos do filho o tão sonhado diploma de conclusão do curso de direito.
“A emoção é muito grande. Na minha idade, já diminuiu um pouquinho, mas foi muito grande hoje”, definiu o recém-formado, que foi aplaudido de pé pela plateia. Também formado em direito, o filho dele José Luiz Sklar vibrou com a conquista do pai. “É uma emoção que não dá para descrever, na verdade, porque é um pouco até ‘antinatural’. Normalmente, são os pais que entregam aos filhos”, diz.
“Foi uma emoção enorme, tenho esse privilégio de entregar para o pai, para um guri de 94 anos”, brinca José Luiz.
Ao longo da cerimônia, Simão recebeu homenagens de oradores e paraninfos, que o citaram como exemplo de garra e superação. O curso escolhido por ele normalmente dura cinco anos, mas ele não teve pressa e fez em sete.
“Eu conto sempre que eu tinha 86 anos, eu estudei sete anos, então estou com 94. Mas eu não estou com 94, para mim, eu ganhei sete anos, eu estou com 79”, diverte-se o formando.
Feliz pela conquista, o mais novo bacharel em direito anunciou que vai prestar a prova para a Ordem dos Advogados do Brasil e que não vai parar por aí. Em breve, pretende iniciar uma pós-graduação.
Natural de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e filho de imigrantes russos, Simão Sklar vive desde os cinco anos de idade em Cachoeira do Sul. Ele chegou a ser casado por 67 anos, mas acabou perdendo a esposa, que tinha sido a primeira namorada.
Quando a esposa morreu, Simão tinha 86 anos. Dois anos antes, o casal havia perdido um dos quatro filhos, de 38 anos, por conta de um câncer. O sentimento de dúvida e luto após ficar viúvo durou por três meses.
“Não queria falar com ninguém. Eu era acostumado a fazer a barba todo dia, mas a barba cresceu. Os filhos e os netos vinham aqui: ‘vô, vem almoçar comigo?’. E eu dizia: ‘não, me deixa que eu estou bem’. Emagreci. Isso durou 90 dias”, lembra.
“Até que um dia eu estava deitado e me deu um estalo: ‘estou tendo uma atitude covarde, eu não posso fazer isso, que exemplo que eu vou deixar pro meu pessoal?’”, conta Simão.
Foi quando ele decidiu voltar a estudar. Aposentado do Exército, ele se inspirou em um neto que cursava direito e decidiu prestar vestibular para o mesmo curso.
“Fiz a inscrição para o vestibular e fui para a prova. Fui o último a sair da sala, mas tive sorte, o tema da redação foi sobre a Cachoeira antiga”, recorda alegremente Simão.
Pelo telefone, ele recebeu o resultado do exame. Uma funcionária da universidade deu a notícia, informando que ele tinha passado em segundo lugar, em uma turma de 50 alunos, e deveria fazer a matrícula para dar início ao ciclo que se encerrou nesse sábado.
“Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida, eu renovei a minha vida”, comemora Simão. (Nação Jurídica)