Uma das principais lideranças do Partido dos Trabalhadores, o senador Humberto Costa (PT) sinaliza, em entrevista à Folha de Pernambuco, que a prioridade do partido é a candidatura presidencial do PT em 2022. Portanto as costuras da agremiação em Pernambuco devem ter como prioridade este projeto. Para isso, o ex-presidente, em sua passagem por Pernambuco, irá buscar lideranças de partidos do campo de esquerda, centro e direita. O esforço incluiria até mesmo o MDB do senador Jarbas Vasconcelos e do deputado federal Raul Henry, que foram adversários ferrenhos do governo petista. Segundo Costa, a expectativa do líder também é conversar com todas as lideranças do PSB, o que inclui o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que criticou duramente o PT na sua campanha em 2020.
Nesta entrevista, o senador ainda fala sobre a unidade do PT para as próximas eleições, a possibilidade de aliança com o PSB, o projeto da deputada federal Marília Arraes e não descarta a possibilidade de disputar o Governo do Estado.
Diante do resultado positivo de Lula nas pesquisas, podemos dizer que é praticamente impossível o PT não lançar a candidatura de Lula em 2022? É uma tendência que ele seja. Agora, ainda falta um ano e três meses (para as eleições). Nesse tempo, muita coisa pode acontecer. Hoje, eu diria que a grande tendência seria você ter uma disputa entre Lula com Bolsonaro no segundo turno, Bolsonaro está perdendo apoio, mas ainda é o nome mais forte nesse campo da direita e da centro-direita, enquanto Lula (está) no outro lado. Hoje, eu diria que a grande tendência é ter uma disputa de Lula e Bolsonaro no segundo turno. Bolsonaro está perdendo apoio e respaldo, mas ainda é o grande nome da direita e centro-direita e Lula do outro lado. Então, há grande tendência de Lula ser candidato pelo PT.
Como o PT vai aglutinar forças em torno desse projeto para 2022? Estamos avançando em conversas com a centro-esquerda, com o PSOL, PCdoB, PSB. Também vamos procurar os partidos de direita que poderão estar com Lula ou no primeiro ou no segundo turno. Eu acredito que esses contatos tenham sido proveitosos porque, os que não estão com a gente no primeiro turno, estarão no segundo. Poderão nos ajudar na tarefa de governar porque vamos pegar o país praticamente aos frangalhos. Se Lula ganhar a eleição, vai ser fundamental que tenhamos o máximo de apoio possível para termos um bom governo. Esse é o trabalho que Lula tem feito.
Qual a expectativa para a visita de Lula em Pernambuco e qual será a agenda do ex-presidente no Estado? Ele deve estar aqui em Pernambuco no segundo ou terceiro fim de semana de agosto. Aqui, ele deve ter uma série de encontros. Naturalmente, ele terá um encontro com as lideranças do PT, os membros da direção estadual e parlamentares. Ele terá também uma reunião com o PSB. Isso deve ser no Palácio, talvez um jantar com o governado Paulo Câmara organizando. Esse é o nosso desejo, de ter essa conversa. Teremos conversas também com o PCdoB, PSOL e vários partidos com os quais já tivemos ou temos relação. Vamos convidar todos eles. O PSD, o PP, Avante, Republicanos. O MDB, nós vamos tentar conversar também. Vamos tentar uma reunião com os movimentos sociais e gente da área da cultura, da universidade. O presidente Lula deve ter conversa com profissionais de saúde no Estado. É possível alguma ação externa, simbólica como refinaria, estaleiro. Alguma ação importante do Governo Lula que hoje se encontra abandonada.
Lula vai procurar lideranças independentemente do seu partido? Sim, porque queremos em cada estado ter um palanque muito amplo. Se você lembrar, esses partidos, alguns talvez, não vão ter candidato a presidente. Alguns partidos vão marchar com os candidatos à Presidência da República que forem mais convenientes com eles. Nós queremos um palanque muito forte em Pernambuco. Por isso que estamos querendo construir essa grande aliança contra Bolsonaro, a partir dos próprios estados.
PT e MDB tem uma história de rivalidade em Pernambuco, mesmo assim, Lula vai procurar Raul Henry e Jarbas Vasconcelos? A conversa não vai tratar somente de eleição. A ideia é conversar sobre conjuntura nacional, como resistir ao Governo Bolsonaro, a legislação eleitoral. Quem não nós pudermos ter (o apoio) no primeiro turno, num eventual segundo turno contra Bolsonaro, nós gostaríamos de ter esses apoios. Não é uma conversa para firmar compromissos de imediato, mas para abrir um canal pessoal. Quem puder estar conosco desde já, tudo bem e quem não puder, sem problemas.
O PT vai querer conversar com João Campos, mesmo após as críticas que o prefeito fez ao PT? Na verdade, a nossa expectativa é de que nós possamos conversar com o PSB como um todo. Eu imagino que o governador deverá estender o convite ao prefeito. Pelo que o presidente Lula falou, ele quer estar com todos, conversar com todos. Óbvio que houve a eleição, mas há algo muito maior que é a necessidade de tirarmos esse governo e construir algo muito maior que é um projeto de unidade política do campo de centro-esquerda, um governo que possa promover as mudanças que o Brasil precisa. Então, eu creio que, da nossa parte, gostaríamos de poder ter contato com todos e esperamos que esse também seja o sentimento do PSB.
Então, podemos dizer que não ficou nenhum ressentimento ou mágoa sobre o que ocorreu no processo eleitoral de 2020? Veja. Lógico que achamos que aquele segundo turno não foi condizente com todas as relações que mantemos com o PSB, mas não vamos ficar cultivando as nossas diferenças. Nós temos um objetivo muito maior que é importante para recife, Pernambuco e Brasil que é podermos findar esse governo Bolsonaro e colocar no seu lugar um governo comprometido com o Brasil, com a nossa população. E aí eu acho que todos nós temos que fazer um esforço para olhar mais para nossas convergências do que para nossas divergências. Já dissemos que não foi bom como foi feito o segundo turno, já registramos nossa insatisfação, mas agora é bola para frente. Vivemos um novo momento.
Quando o ex-presidente Lula sentar com as lideranças do PT vai encontrar um partido unido em Pernambuco? Como fica a situação da ala do PT que continua ressentida com o PSB e que podem resistir em relação a essa aliança? O presidente Lula vai encontrar um partido unido em torno da ideia de que nós temos que contribuir para que a candidatura Lula deslanche, que ele tenha uma expressiva votação em Pernambuco e que essa votação contribua para a vitória dele. Esse é o ponto de unidade que temos e mais importante para todos nós nesse momento. Nesse ponto, tenho certeza que todos estamos imbuídos desse mesmo sentimento, dessa mesma vontade.
O senhor acredita que Marília Arraes se engaja com esse projeto mesmo com a aliança do PT com o PSB, porque ela chegou a conversar com lideranças de oposição no Estado? Eu entendo que isso é um tema que cabe a ela responder. Essas posições são posições que ela tem assumido, mas acredito que o partido, em sua esmagadora maioria, vai seguir o caminho que for melhor para a disputa nacional. Naturalmente, vamos discutir a sucessão no estado, temos aspirações próprias do PT de Pernambuco, mas tudo isso dentro de uma linha mais ampla de viabilizar nossa vitória para Presidência da República.
Dentro desse projeto, tendência é uma aliança do PSB com o PT em Pernambuco? Tudo ainda é muito cedo para se discutir. O que eu posso dizer é que o PT está preparado para qualquer cenário. Se for um cenário de aliança com a Frente Popular ou com outro partido encabeçando essa aliança, poderemos estar engajados nisso. Se a Frente Popular considerar em algum momento que o PT pode ser um bom caminho para a condução da Frente Popular, o PT está aberto a isso. E se o PT tiver que ter uma candidatura própria, ele terá. Nós temos nomes, temos condições de fazer alianças e nós temos competitividade para uma disputa como essa. Estamos prontos para qualquer que seja o ambiente que vamos enfrentar em 2022.
O senhor pode ser esse nome? Sim. Algumas pessoas tem cogitado esse meu nome. Isso me deixa lisonjeado. Eu sempre me coloquei à disposição do partido para cumprir tarefas. Acho que meu nome tem competitividade para fazer essa disputa. Vai depender única e exclusivamente do próprio PT e também das discussões que vamos travar sobre a eleição nacional.