Lula mantém 57 milhões de votos sub judice. O crescimento do ex-presidente nas pesquisas, mesmo preso, amplia a dimensão da estrada que o PT bloqueou ao insistir em sua candidatura ao Planalto, a um mês e meio da eleição.
O novo levantamento do Datafolha sugere que, embora dois terços dos lulistas já escolham outros nomes quando o petista é excluído da disputa, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), o quadro pode mudar dramaticamente na campanha.
Quase metade dos eleitores de Lula (48%) não conhece Fernando Haddad, que substituirá o ex-presidente na chapa. Outros 26% dizem que o conhecem “só de ouvir falar”.
O desconhecimento seria uma fragilidade, não fosse a influência expressiva de Lula sobre seu eleitorado.
O potencial de transferência medido na pesquisa atenua parte do ceticismo em relação a esse poder.
Entre eleitores que declaram voto em Lula, 62% escolheriam “com certeza” o candidato apoiado por ele. Se esses eleitores mantiverem sua disposição e receberem a mensagem de que Haddad é o nome lulista, o ex-prefeito poderá atingir 24% dos votos. Ainda que uma parte fique pelo caminho, a conversão seria suficiente para levá-lo ao segundo turno.
Haddad pontua timidamente nas trincheiras petistas, como o Nordeste (5%) e as famílias de baixa renda (3%). Nesses segmentos, porém, estão os maiores percentuais de entrevistados que não sabem quem será o candidato petista —beirando 60%.
Lula acumula força enquanto mantém uma névoa sobre o eleitor. A estratégia pode ser exitosa, mas o PT empobrece o debate político. A poucas semanas da votação, a avenida foi reaberta para um trânsito caótico.