Filtrar água do mar para salvar Gaza…

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“É a ONU que diz: em cinco anos não haverá água potável em Gaza”, lança Abu Dia Aassi, que desenvolveu uma máquina para filtrar a água do mar na esperança de salvar o enclave palestino de uma tragédia anunciada.

Porque trata-se de uma “ameaça real para a vida em Gaza”, este engenheiro palestino de 29 anos virou-se para “a única solução”: transformar a água do Mediterrâneo, que faz fronteira com a Faixa de Gaza, em água potável graças à nanotecnologia.

A cada ano, 1,8 milhões de habitantes de Gaza consomem 180 milhões de metros cúbicos de água – metade para a agricultura e a indústria. Em cinco anos, mais de 500.000 habitantes a mais elevarão o consumo a 260 milhões de metros cúbicos, segundo projeções das Nações Unidas tornando o enclave “inabitável”, afirma Robert Turner, diretor do programa da ONU em Gaza.

E dentro de um ano o lençol freático, já “97% poluído e perigoso para o consumo”, estará permanentemente inutilizável.

Além de seu trabalho como engenheiro, Dia iniciou o projeto com financiamento da Universidade Islâmica, ligada ao Hamas, que continua no poder em Gaza, e em colaboração com um centro de pesquisa em Omã.

Ele iria apresentar sua invenção em um fórum internacional em Ramallah, uma centena de quilômetros ao norte da Cisjordânia ocupada. Mas ele não conseguiu obter a autorização de saída da Faixa de Gaza, sob bloqueio há nove anos.

Mil litros por dia

Não é a fama que interessa este homem que é o primeiro inventor árabe a usar a nanotecnologia para resolver a crise da água. Para “salvar Gaza do desastre programado para 2020”, ele conduziu 170 experimentos em 14 meses, antes de chegar a reduzir a salinidade da água do mar em um nível aceitável para o consumo.

Com sua máquina, Dia pode tratar 1000 litros de água por dia.

De acordo com seu assistente Alaa al-Hindi, é preciso investir 300 milhões de dólares para construir uma estação de tratamento de água – um financiamento que ainda não foi oferecido por ninguém.

Mas em Gaza, uma espada de Damocles paira sobre qualquer projeto: “há sempre o medo, disse ele, de que a estação seja bombardeada por Israel durante uma nova guerra, como aconteceu com a central de energia elétrica”.

Até agora, Dia não recebeu uma resposta ao pedido de construção de uma usina de dessalinização feito ao governo de unidade palestino.

Sua finalidade é alinhar dezenas de suas máquinas para o tratamento de água através de tubos de ferro em grande escala e caixas eletrônicas que projetam a água em alta velocidade, a filtram e, em seguida, tornam a injetar os sais minerais.

A contribuição da nanotecnologia no tratamento da água está aqui: a ciência que se resume à menor escala usada para filtrar as bactérias e especialmente o sal.

‘Agente perigoso’

Para Monther Shoblak, gerente local da água, a solução seria “encontrar fontes alternativas” e parar de bombear água subterrânea, “da qual tiramos 200 milhões de metros cúbicos por ano, quando deveríamos usar apenas entre 55 e 60”.

Neste lençol, “os níveis de cloro, que não devem exceder 250 mg por litro, chegam a 1.500 mg/l” porque a água do Mediterrâneo se infiltra, segundo a ONU, que também aponta o “nitrato, um agente perigoso que causa mais e mais doenças na Faixa de Gaza, como o câncer, e aumenta a mortalidade infantil”.

De acordo com Mahmoud Daher, representante da Organização Mundial da Saúde em Gaza, “a diarreia causada por água imprópria para consumo é cada vez mais frequente, especialmente entre as crianças”.

Face à crise humanitária, Dia prometeu desenvolver sua invenção apesar dos obstáculos. “É a vida de quase dois milhões de pessoas que está em jogo”, alerta. (AFP)