Dez estados devem definir governador já no primeiro turno

Por: Vinicius Doria – Correio Braziliense – A somente três dias do primeiro turno das eleições gerais, o mapa das disputas pelos governos estaduais segue indefinido na maior parte do país. Mas, em pelo menos 10 estados, as pesquisas de intenção de votos apontam para um desfecho já no domingo, com os primeiros colocados somando, pelo menos, 50% da preferência do eleitorado, de acordo com as pesquisas feitas pelo Ipec nesta última semana de campanha.
A Região Norte concentra a maior parte dos favoritos, com quatro estados — Acre, Amapá, Pará e Roraima — caminhando para a definição em primeiro turno. De lá deve sair o campeão de votos desta eleição, segundo o Ipec. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), que tenta a reeleição, soma 72% das intenções de voto, o maior percentual do país até agora.
No Centro-Oeste, a disputa pelo governo estadual tende a ser definida no domingo em Goiás e em Mato Grosso. Espírito Santo (Sudeste), Rio Grande do Norte e Bahia (Nordeste), e Paraná (Sul) completam a lista de possíveis vitórias em primeiro turno. Em comum, a ampla maioria dos favoritos ou busca a reeleição ou tem o apoio do atual governador. A única exceção é a Bahia.
No Pará, maior colégio eleitoral da Região Norte, Helder Barbalho colhe os frutos da mais ampla aliança montada nestas eleições. Para permanecer por mais quatro anos à frente do Palácio Lauro Sodré, Barbalho conta com o apoio formal de 16 partidos — incluindo PT, PP e Republicanos —, contemplando praticamente todo o espectro político. Também colabora para a boa performance do governador a postura que adotou na disputa pela Presidência da República. Apesar de apoiar a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele também abriu o palanque para a candidata de seu partido, a senadora Simone Tebet (MS).
No Acre e em Roraima, os governadores também despontam como favoritos para vencer no primeiro turno. Gladson Camelli soma 54% das intenções de voto dos acrianos. O principal adversário é o ex-governador Jorge Viana (PT), com 25%, que tenta uma arrancada nesta reta final de campanha para chegar ao segundo turno. Já em Roraima, Antônio Denarium (PP), com 50%, enfrenta a pressão de Teresa Surita (MDB), que soma 37% das intenções de voto. No Amapá, também com 50% da preferência segundo o Ipec, desponta o ex-prefeito de Macapá Clécio Luís (Solidariedade), que conta com o apoio do governador, Waldez Góis (PDT), e do senador David Alcolumbre (União Brasil). De esquerda, Clécio já passou pelo PT, pelo PSol e pela Rede, antes de se filiar ao Solidariedade no início deste ano.
No Centro-Oeste, dois governadores do União Brasil ligados ao agronegócio lideram as respectivas disputas com folga sobre os adversários: Mauro Mendes, de Mato Grosso, e Ronaldo Caiado, de Goiás, somam 60% e 55% de intenção de voto, respectivamente. Em comum, ambos apoiaram a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, mas, agora, mantêm distância da campanha presidencial para evitar que sejam contaminados pela alta taxa de rejeição do presidente.
Na Região Sudeste, as pesquisas apontam amplo favoritismo para a reeleição do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), com 53% das intenções de voto, bem à frente de seu principal oponente, Manato (PL) — apoiado por Bolsonaro —, que tem 18%. Apoiador de Lula, Casagrande também montou um leque generoso de partidos em sua coligação: são 10 as legendas que integram o seu palanque, incluindo PT, PSDB e PP. A estratégia mostrou-se eficiente em um estado que deu a Bolsonaro, em 2018, a maior votação proporcional no Sudeste: 63% no segundo turno, contra 37% de Fernando Haddad (PT).
No Sul, o campeão de votos apontado pelas pesquisas deve ser o governador do Paraná, Ratinho Jr (PSD), que tem 55% da preferência dos eleitores para permanecer à frente do governo local. O ex-governador Roberto Requião (PT), com 28%, luta para levar a decisão ao segundo turno, escorado pelo apoio de Lula no estado que sediou a Operação Lava-Jato.
Margem de erro
Em números absolutos, a Região Nordeste é a única em que nenhum dos nove estados apresenta candidato com mais de 50% da preferência do eleitorado, segundo o Ipec. Mas, em dois, os líderes das pesquisas estão dentro da margem de erro de três pontos percentuais. No Rio Grande do Norte, a atual governadora, Fátima Bezerra (PT), aparece como favorita com 49% das intenções de voto. Na Bahia, ACM Neto (União Brasil) é o único candidato de oposição ao governo estadual na lista dos 10 maiores favoritos. Mas a situação dele já foi melhor. Quando a campanha começou, em agosto, tinha 56% das intenções de voto, contra 13% do candidato da situação, o petista Jerônimo Rodrigues. De lá para cá, ACM Neto despencou nove pontos percentuais e viu seu adversário mais forte escalar 19 pontos em apenas um mês. Na pesquisa Ipec divulgada no começo da semana, o placar registra 47% a 32%.
No Distrito Federal, o Ipec aponta possibilidade de segundo turno. O governador Ibaneis Rocha (MDB), que busca a reeleição, aparece com 43% das intenções de voto, contra 16% do segundo colocado, o deputado distrital Leandro Grass (PV). Outros institutos de pesquisa chegaram a apontar vitória do emedebista no primeiro turno.
Candidatos a ganhar em 1º turno
Norte
Acre — Gladson Camelli (PP) – 54%
Amapá — Clécio (Solidariedade) – 50%
Pará — Helder Barbalho (MDB) – 72%
Roraima — Antônio Denarium (PP) – 50%
Centro-Oeste
Goiás — Ronaldo Caiado (União Brasil) – 55%
Mato Grosso — Mauro Mendes (União Brasil) – 60%
 
Nordeste
Bahia —ACM Neto (União Brasil) — 47%
Rio Grande do Norte — Fátima Bezerra (PT) – 49%
 
Sudeste
Espírito Santo — Renato Casagrande (PSB) – 53%
 
Sul
Paraná — Ratinho Jr. (PSD) – 55%

 

O último debate
A corrida pela Presidência entra, hoje, em seu momento decisivo. Na eleição mais polarizada da era pós-redemocratização, os dois candidatos que disputam com chance de vitória participarão, às 22h30, do debate na TV Globo, o último antes do primeiro turno. As pesquisas mostram que, no tabuleiro eleitoral, há poucos votos disponíveis, mas esse pouco pode ser o suficiente para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definir o pleito sem necessidade de um segundo turno. No caso do principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), representa a possibilidade de sobrevida de quatro semanas na pretensão de permanecer no cargo por mais quatro anos.
Para os coadjuvantes — Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) —, o debate desta noite tem potencial para definir o terceiro colocado dessa disputa particular. Os figurantes — Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D´Ávila (Novo) e Padre Kelmon (PTB) — tentarão aproveitar o palanque eletrônico da emissora líder de audiência para ampliar seus respectivos cacifes políticos mirando horizontes mais distantes.
De acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto, Lula está bem próximo de fechar a disputa ainda no primeiro turno. Levantamento do Ipec divulgado na segunda-feira mostra o ex-presidente na liderança, com 48% da preferência do eleitorado, contra 31% de Bolsonaro. Em votos válidos (excluindo brancos, nulos e indecisos), o petista venceria a eleição na rodada inicial de votação com 52% contra 34% do presidente. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais, o instituto ressalva não ser possível cravar uma tendência, se a eleição termina domingo ou se estenderá até o segundo turno, dia 30. As demais pesquisas divulgadas até agora também mostram cenário incerto.
 
Estratégia
Por causa dessa indefinição, a estratégia de Bolsonaro é evitar que Lula supere a marca de metade dos votos válidos. Para o petista basta não criar ruídos que abalem a caça aos indecisos. Na pesquisa espontânea do Ipec, 10% do eleitorado disseram ainda não ter candidato definido, enquanto mais de 80% declararam que não mudarão a escolha. Nunca uma eleição chegou aos dias finais da campanha com o voto tão cristalizado.
Para analistas políticos, o debate da TV Globo é visto como o último movimento relevante da campanha, com potencial para movimentar as próximas — e derradeiras — pesquisas de intenção de voto.
Os comandos das campanhas de Lula e Bolsonaro estão dando muita importância para o debate desta noite não só pela expectativa de alto grau de beligerância, mas, também, pela oportunidade de estimular o eleitor a comparecer às urnas, no domingo.