O ex-presidente Fernando Collor de Mello atribuiu o impeachment que sofreu em 1992 ao tratamento que deu ao Congresso Nacional. “Não foi o tratamento que o Congresso precisa e merece num sistema republicano e de presidencialismo de coalizão, que é o grande mal que assola o nosso país”, afirmou Collor, em entrevista ao “Jornal da CBN – 2ª Edição”.
Ele afirmou que o papel do presidente da República é fazer política, algo no qual falhou na relação com o Legislativo. Hoje senador pelo PTC de Alagoas, Collor foi eleito na primeira eleição direta pós-ditadura de 64 e sofreu impeachment em 1992. Segundo ele, por não ter feito política, isso gerou “mágoa que se transformou em hostilidade” no Congresso. Depois da queda, o STF absolveria Collor das acusações de corrupção.
Na opinião de Collor, “foram cometidas muitas injustiças no processo a que está sendo submetido o ex-presidente Lula”.
Apesar de ter votado a favor do impeachment, ele disse que fez alertas à então presidente e seus principais auxiliares do risco de queda. “Eles fizeram ouvidos de mercador”, avaliando que Dilma deu “tratamento de menosprezo” ao Congresso.
Ou seja, a falha na relação com o Legislativo também teria sido um fator da queda de Dilma, exatamente como ele imagina ter acontecido com ele. No entanto, Collor disse que houve justificativa legal para o impeachment, com “as chamadas pedaladas” fiscais, maquiando a contabilidade pública.
Collor afirmou que o ex-procurador-geral da Républica Rodrigo Janot, que ele chama de “Janó”, e o ex-procurador da República Marcelo Miller tiveram atuação de mafiosos no Ministério Público, cometendo abusos. Bateu duro em Janot e Miller. Ele é crítico das delações premiadas das formas como vêm sendo utilizadas no país.
Réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e comando por organização criminosa, ele afirmou que provará a “inocência” e que vai “demolir” as delações. Disse que essas colaborações têm feito acusações sem provas. “Lava Jato no seu espírito vai na direção correta. Ela peca, e gravamente, na sua execução”.
Collor também rebateu acusações de envolvimento com a compra do dossiê Caribe, um conjunto de papéis falsos sobre suposta conta da cúpula tucana no exterior. Apesar de inquérito da PF (Polícia Federal) apontar envolvimento dele, Collor disse que nunca foi processado ou chamado a depor sobre essa questão.
Indagado sobre o que faria de diferente se pudesse voltar ao passado, ele defendeu sua plataforma de abertura econômica, reforma política e admitiu que daria mais atenção ao Congresso.