Jair Bolsonaro concedeu uma longa entrevista a José Luiz Datena, da Band. Conversaram por quase duas horas. A certa altura, o repórter quis saber a opinião do novo presidente sobre a ideia de filmar professores que façam suposta “doutrinação” política em sala de aula. Bolsonaro aprovou e estimulou a iniciativa: “Não tem problema nenhum, pode filmar.”
Deve-se a proposta de gravar professores à deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL), de Santa Catarina. Ela pediu nas redes sociais que estudantes catarinenses filmem e denunciem professores que façam “queixas político-partidárias em virtude da vitória do presidente Bolsonaro”.
A Justiça mandou a deputada eleita pelo partido do presidente retirar da internet as mensagens que incitavam os alunos a realizar filmagens em sala de aula. Para Bolsonaro, porém, “o professor tem que se orgulhar e não ficar preocupado” com a hipótese de ser gravado. “Só o mau professor é que se preocupa com isso daí”, declarou.
A posição de Bolsonaro é lamentável e promissora. Deve ser lamentada porque não fica bem um presidente da República jogar alunos contra professores, estimulando a adoção de uma espécie de ‘macarthismo’ escolar. Pode ser uma boa promessa pelas perspectivas que se abrem.
Considerando-se que Bolsonaro acha que “não tem problema nenhum” filmar servidores públicos no exercício de suas funções, decerto instalará uma câmera no gabinete presidencial. O exemplo, como se diz, vem de cima.
Os contribuintes em dia com a Receita Federal adorarão acompanhar os despachos presidenciais em tempo real. E Bolsonaro se orgulhará de ser levado à vitrine, pois só um mau presidente da República se preocuparia com isso daí.