Em entrevista à Folha de Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos (MDB) avalia o primeiro ano do novo mandato na Casa Alta e as perspectivas para as eleições deste ano. Ele defende uma candidatura própria do MDB, mas sinaliza que decisão caberá ao deputado Raul Henry (MDB).
Qual a avaliação do senhor sobre o primeiro ano do Governo Bolsonaro? Houve mais avanços ou as polêmicas em torno de declarações controversas e a família do chefe do Executivo atrapalharam os avanços da pauta econômica? Apesar das confusões e das falas desencontradas do capitão e de seus filhos, há de se reconhecer avanços na pauta econômica. Porém, é justo destacar o protagonismo do Congresso Nacional que ajustou e melhorou propostas do executivo, em particular nas regras de atualização da previdência social. Estávamos caminhando para um colapso nas contas públicas, além de perpetuar uma perversa relação entre alguns privilegiados e a grande massa da população.
Há uma expectativa de avanço neste ano na discussão de pautas reformistas como a reforma tributária, administrativa e o pacto federativo. Como o senhor avalia as discussões em torno desses temas? O senhor acredita na aprovação dessas propostas em pleno ano eleitoral? É urgente avançar em outras reformas vitais para o país. As distorções de receita entre as diversas regiões do Brasil saltam aos olhos e ao bolso. Os impostos gerados por diferentes entes inibem o empreendedorismo, a geração de emprego e a cadeia produtiva. Também não podemos conviver com o peso da máquina pública existente. É preciso torna-la mais justa, eficiente, ágil, delegando ao setor privado parte da burocracia pública. O pacto federativo tem a possibilidade de diminuir asfixia entre os organismos mais frágeis do país. Essas pautas começam com apelo econômico, mas trazem resultados virtuosos em benefícios sociais. Independente de ser um ano eleitoral não vamos fugir dessas discussões.
Como o senhor avalia o primeiro ano de legislatura no Senado? Falei aqui já do protagonismo que vem sendo exercido pelo Congresso Nacional e devo destacar o exercício de convergência que vem sendo construído na Câmara e Senado Federal. As pautas estão além do governo instalado, são essenciais para o equilíbrio das próximas gerações e exigem pressa e coragem política. Tenho me reunido com um grupo de Senadores mais experientes, que possuem ampla visão do país e do momento que vivemos, inclusive em parte ex-governadores, a exemplo de Tasso Jereissati, José Serra, Antônio Anastasia, entre outros. Nós que já fomos testados nas encruzilhadas de tantas dificuldades estamos tentando mediar o tensionamento exacerbado pela intolerância dos extremos.
Pernambuco tem estado presente em sua atuação? Foi a Pernambuco que dediquei minha jornada, nas mais diferentes posições que ocupei, inclusive este ano estou fazendo 50 anos de vida pública, como Deputado Estadual, Federal, Prefeito do Recife, Governador, e Senador da República. Até hoje não tive o que desabonasse minha conduta, e sou grato por ter recebido reiteradas vezes a confiança do povo. Em Brasília, no ano passado, viabilizamos cerca de 40 milhões de reais para aplicação nas áreas de saúde e infraestrutura, em regiões e municípios da zona da mata, agreste e sertão. Parte desses valores serão aplicados diretamente pelo Governo do Estado, e também por mais de 50 municípios e 17 entidades de prestação de serviço público.
Na eleição de 2016, o MDB conseguiu crescer bastante, aumentando o número de prefeitos do partido. Como está a preparação do MDB para as eleições deste ano? Nas eleições de 2016 o partido teve como estratégia lançar o maior número possível de candidatos. E tivemos muito êxito nessa iniciativa. Fomos a secção estadual do MDB que mais cresceu no Brasil. Elegemos 17 prefeitos, 15 vice-prefeitos e terminamos como a segunda força em 13 municípios pernambucanos. Para 2020 queremos e iremos repetir essa estratégia e seguir crescendo e fortalecendo nossa legenda.
A entrada do senador Fernando Bezerra no MDB foi tumultuada no início. Hoje, o senhor acredita que a legenda conseguiu construir a unidade interna? Como é sua relação com o grupo do senador? O Senador Fernando Bezerra me procurou pessoalmente no início do ano passado e passamos a limpo nossas posições, viramos a página com relação ao contencioso que tivemos. Precisamos pensar no coletivo, na necessidade da maioria da população despossuída, na obrigação que temos em reconstruir o conceito da política como ferramenta preciosa de uma sociedade que busca a maturidade em sólidos princípios de governança e bem estar da população. Mantivemos o comando do partido, oferecendo a ele espaços na região em que tem sua representação eleitoral. Nos encontramos na convergência e nos respeitamos na divergência.
Como conciliar a postura de oposição do grupo do senador Fernando Bezerra Coelho e a aliança do MDB com o PSB? Nossa relação com Paulo Câmara é de apoio político e administrativo. Ele é equilibrado e dedicado às suas tarefas de gestor público. Não é fácil para um Governador de um estado do Nordeste que crescia mais do que sua região e país, administrar a profunda crise que atingiu o Brasil nos últimos anos. O impacto em Pernambuco foi avassalador, e ele tem oferecido o melhor de sí. Mantêm os salários em dia, os equipamentos públicos funcionando e tem atraído novos empreendimentos, indústrias, centros de distribuição, com geração de empregos.
O senhor defende a candidatura do deputado federal Raul Henry para prefeito do Recife? Raul Henry é um excelente quadro da política. Tem grande capacidade de agregar. Conhece bem a cidade do Recife onde já serviu como secretário e Vice-Prefeito. Gostaria de vê-lo candidato na disputa deste ano. Já externei isso a ele, mas respeito seu tempo de reflexão sobre o assunto e também sua decisão futura.
Uma eventual candidatura de Raul Henry para a Prefeitura do Recife poderia afetar a aliança com o PSB? Fazemos parte hoje da Frente Popular no Estado, que reúne vários partidos e tem bons quadros. Se a candidatura de Raul a prefeito do Recife ocorrer, será um movimento natural e legítimo do MDB, na sua busca por fortalecimento como legenda.
Como o senhor vê a candidatura de João Campos? Ele tem as credenciais para ser prefeito do Recife apesar da pouca idade? A candidatura de João Campos é algo que em primeiro lugar deve ser tratada dentro do próprio partido dele, o PSB, para que em seguida essa decisão seja dividida com os demais partidos que formam a Frente Popular. O importante é que possamos ter unidade em torno de um candidato comprometido com as propostas e desafios do Recife.
O senhor foi prefeito do Recife, tendo uma das gestões mais exitosas do País na época. Como o senhor avalia a administração do Recife hoje? É preciso entender as circunstâncias, limitações e ousadias de cada tempo. Imagino que alguém que seja eleito Prefeito deseja emprestar o melhor a sua cidade. O cartão de visitas do Recife, hoje, é o modelo e o funcionamento do COMPAZ, um exemplo do bom aproveitamento de uma proposta do MDB para a cidade. Estamos no ano em que precisamos ouvir o eleitor. A gestão atual teve oito anos para mostrar a que veio e agora é aguardar a resposta das urnas.