Wolney Queiroz quer zerar fila do INSS

Por Magno Martins /Folha de Pernambuco – O ex-deputado Wolney Queiroz (PDT) pegou um abacaxi pela frente: na missão delegada pelo presidente Lula, agora como secretário-executivo do Ministério da Previdência, de trabalhar intensamente para zerar a fila do INSS, hoje com cerca de 6 milhões de atendimentos represados.  Promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o desafio já está encarado com uma decisão: vai apresentar ao ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), um plano ousado baseado, entre outras ações, no atendimento humano, célere e justo aos segurados. “Temos também a missão de implantar o cartão do aposentado, contendo todos os benefícios”, disse. Abaixo, a sua entrevista.
Depois de seis mandatos na Câmara, o senhor assume uma missão técnica. Como está encarando esse desafio? 
Foram quase 24 anos como deputado federal e deixei muitos amigos na Câmara. Costumo dizer que ninguém sente saudade de fiscalizar os atos do legislativo, de fazer uma medida provisória, de legislar, mas das amizades que construímos. Mantenho os vínculos com os parlamentares que construi essa relação de amizade até hoje. Mas o mais importante é a gente está aqui em Brasília e poder transformar isso em capital político para nos mantermos vivo na política. Passei a viver um ambiente novo e desafiador. O Ministério é gigante. Só na folha de pagamento são 37, 858 milhões de pessoas que recebem algum tipo de benefício do INSS. Há uma fila de represamento de atendimento em torno de 6 milhões de pessoas. O presidente Lula disse, em seu discurso de posse, ser um compromisso do governo zerar essa fila. Temos também o desafio de implantar o cartão do beneficiário, que vai unificar todos os beneficiários do Ministério da Previdência e do INSS para que eles tenham uma identificação nacional. O que vai ser uma coisa muitas boa, porque depois vai ser usado como cartão de benefício de descontos em Uber, táxi, passagens aéreas. Os aposentados e pensionistas terão essa possibilidade.
Isso repercute no atendimento do INSS?
Agilizando esse atendimento, vamos contribuir muito para que haja um clima melhor com relação ao INSS e o Ministério da Previdência. Nossa equipe tem uma missão constituída por um tripé – atendimento humano, célere e justo. Se a gente conseguir, será dado um grande passo para o Brasil avançar nas questões previdenciárias.
Em relação ao déficit histórico da Previdência, o que está sendo feito neste sentido? É possível zerar? 
É impossível zerar. Isto não é uma empresa. Nós temos uma previdência social, que é uma função social. Em mais da metade dos municípios brasileiros a maior receita é a aposentadoria e a pensão, mais do que o FPM. Isso ajuda a levar dinheiro para as bodegas, farmácias, os pequenos comércios. E é importante que esse dinheiro chegue para irrigar. A função social disso é muito grande. Não há esse drama de zerar esse déficit. É um dinheiro que não é gasto, mas investido no Brasil. Quando se coloca o déficit da seguridade social, envolve a família, a saúde, as aposentadorias rurais, que são feitas com pessoas que não contribuíram. Então, não é uma política compensatória, mas uma política social. Não é previdenciária, porque previdência é uma coisa contributiva. Ou seja, quem contribui tem direito a sacar. No caso da aposentadoria rural, é justo, é importante, é legal, mas só que está na conta da Previdência quando deveria estar em uma conta à parte. Então, termina aumentando o tamanho do problema, quando não é um problema da previdência social. Acho que zerando a fila e fazendo um atendimento humano, célere e justo, teremos contribuído muito nesses quatros anos.
O que será feito para zerar essa fila?
A gente está elaborando uma proposta audaciosa. Quase 60 dias, temos trabalhando todos os dias em reuniões e estudos, aprofundando essa questão e tem a parte emergencial, que é a parte dos mutirões que teremos que fazer. A outra, entender como funciona isso e informatizar mais. Outra parte é remunerar melhor com produtividade os peritos-médicos e fazer com que os peritos gastem menos tempos fazendo trabalhos burocráticos. Esse trabalho vai ser por analistas que não são peritos para deixar esses peritos fazer o que sabem, que é fazendo a perícia. Hoje, o perito gasta muito tempo fazendo o trabalho burocrático que demanda tempo, desgasta e que não contribui para que ele agilize o processo. Então, é um leque de ações apresentado ao ministro nos próximos dias para que a gente possa implementar tudo isso e reduzir drasticamente essa fila. 
Em relação à estruturação ao INSS, há previsão de se criar mais agências, mais postos? 
Não. Acho que isso já aconteceu no passado e há uma tendência de modernização. Hoje é menos importante ter um maior número de agências, mas importante a facilidade do acesso digital. Ter campanha que ensine as pessoas a abrir um smartphone ou um computador, para pessoa de mais idade acessar. Que seja uma coisa autoexplicativa, de fácil interação, para que, através dos modos digitais possa acessar, requerer, entender e receber os seus benefícios. Estamos querendo melhorar isso. A Dataprev saiu do Ministério da Previdência, agora está no Ministério da Gestão, mas é uma interlocução que a gente tem feito com para conseguir fazer com que esse fluxo flua melhor. Se a gente conseguir isso, o atendimento vai melhorar muito.
O seu pai é candidato a prefeito de Caruaru?
Eu tenho dedicado pouco tempo a política por enquanto. Estou mergulhado no Ministério, onde chego às 8h da manhã e só vou embora após às 21h. Acho que no segundo semestre começo a focar mais na parte política, vou ver se nos finais de semana começo visitando as cidades para reestruturar o partido. Tem cidades grandes, como Caruaru, que o PDT deve ter candidato, porque tem força política, como é o caso de Caruaru. Fui majoritário lá como federal e Zé Queiroz também como estadual. É natural que Zé Queiroz, que tem saúde, bons projetos e um bom conceito na cidade possa disputar a Prefeitura com boas chances de vencer.
E Zé Queiroz já está em campanha, não é?
Papai não para, está sempre se movimentando, porque gosta. O estilo dele é esse e ele não faz isso forçado. Ele gosta de está no meio do povo, no meio da rua, sentindo os problemas da cidade e tem muitos bons projetos. Isso é o que é mais importante.
No Recife, o seu partido está alinhado à reeleição de João Campos?
O partido faz parte da base de João Campos com a Secretaria do Trabalho. Estamos bem afinados, consegui recursos importantes aqui em Brasília e quero ajudá-lo, mesmo sem mandato, a destravar as coisas do governo municipal aqui. Temos bom trânsito aqui, tanto no primeiro quanto no segundo escalão, quanto no Congresso. Eu acho que essa mobilização de força política que a gente faz em defesa da cidade do Recife é uma coisa importante e ele tem me pedido algumas demandas e a gente tem podido ajudar na medida do possível.
Já está acertado que o PT vai fazer parte do governo dele. O senhor defende que o PT tenha cargos na Prefeitura?
Eu acho que gente boa para ajudar é sempre bem-vinda. Se o PT tem técnicos importantes, se tem gente boa, gente da política que quer ajudar e tem competência, quanto maior for o leque para fazer uma grande administração como ele está fazendo, é sempre bem-vindo. Torço que a gente faça uma ampla aliança política porque sou um defensor da política.