Vida na Terra pode acabar em 200 anos…

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 Juliana Duran e Beatriz Souza Costa/Dom Total

“Se não despertarmos para a preservação dos recursos hídricos, a vida na Terra pode desaparecer em 200 anos”, afirma a ativista ambiental canadense Maude Barlow. Autora de ‘Água, o pacto azul’ (2009), Barlow é Conselheira da ONU para o tema. Segundo a agência, atualmente todos os países do norte da África e do Oriente Próximo sofrem de “escassez de água grave”, com consequências “significativas” para a agricultura.

Dados da FAO, Programa das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, indicam que até 2025 1,8 bilhão de pessoas deverão viver em países ou regiões com escassez “absoluta” de água e dois terços da população mundial podem estar “sob condições de stress”. Os dados foram publicados em agosto, neste portal.

O Brasil enfrenta o problema mesmo sendo o mais rico em recursos hídricos do planeta, com 14% de toda a água doce do mundo em seu território. Para se ter um exemplo do drama atual da seca, no estado da Paraíba 23 cidades estão em colapso total de abastecimento de água. O aumento do racionamento, que acontece desde dezembro, foi anunciado pelo governo em julho, passando de 36 horas para 70 horas semanais. A gravidade da situação se entende pelo polígono da seca, do qual a Paraíba faz parte com outros sete estados da região segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE-USP.

Continua…

No último sábado (12) o sistema Cantareira em São Paulo superou a média histórica de chuvas para o mês de setembro chegando a 107,8mm contra a marca de 86,6mm. O volume do sistema aumentou, mas continua deficitário em 13,2% segundo cálculo da Companhia de Saneamento Básico do Estado – Sabesp. Isso quer dizer que a reserva técnica, ou volume morto, continua comprometida. Em quatro meses de vigência da multa da água lançada em fevereiro pela Sabesp, a economia havia sido 44% menor que a meta estimada.

Em minas Minas Gerais a Companhia de Saneamento – Copasa iniciou no segundo semestre deste ano obras de captação de água do rio Paraopeba para o abastecimento da capital. O desvio das águas deverá aumentar a vasão do sistema em 5 mil litros por segundo. Entretanto, o que se observa, com o manejo dos recursos hídricos disponíveis para suprir a falta de água, é a dependência no país da malha fluvial, sobretudo em tempos de chuvas escassas. O reuso de água por sistemas públicos de abastecimento é próximo de zero.

A solução para a crise da água não parece ser ampliar a captação dos rios. O que se vê é que estes já pouco suportam os maus tratos do desmatamento e da poluição e a aridez progressiva do clima. As soluções passam pela gestão competente dos recursos disponíveis, além da educação da sociedade para o consumo consciente da água. É o que defende o professor doutor Toshio Mukai ao avaliar as causas do problema no artigo Por que existe crise hídrica em São Paulo? A experiência do estado e os pontos fracos na gestão hídrica apontados por Mukai servem de alerta para os Estados que ainda operam no azul em seus sistemas de abastecimento.

“Somente sob o enfoque de um novo paradigma de gestão poderão ser traçados os objetivos e as prioridades nos usos múltiplos da água: solo, agricultura, consumo doméstico, industrial e conservação das várias bacias”, afirma a professora da Escola de Direito Dom Helder Câmara, Adriana Camatta. Seu texto, O Contexto multidimensional da crise hídrica,  aponta para a necessidade urgente de planejamento e administração das bacias, em todos os níveis governamentais.

Alexandra Soares apresenta exemplos de países que enfrentam a escassez, como a Austrália, onde existe um “mercado de água”. O incentivo aos agricultores para o seu uso eficiente é uma das experiências que podem ser aproveitadas no cenário brasileiro, indica a pesquisadora, integrante do corpo docente do Mestrado da Escola Superior Dom Helder Câmara. Ações a curto, médio e longo prazo para evitar que o problema se agrave podem ser conhecidas no texto Crise Hídrica: como reduzir o problema?

Hoje a oferta de água no planeta não tem a medida de sua demanda e toda a população mundial está vulnerável à crise. Vale a leitura dos três especialistas que integram essa seção, na busca de soluções urgentes que possam reverter ou, pelo menos, abrandar este quadro.