No momento em que a pandemia no Brasil está em aceleração, a confirmação dos primeiros casos da variante indiana do coronavírus no país deixa autoridades e sociedade civil em alerta. Trata-se de seis pessoas que chegaram ao Maranhão a bordo do navio MV Shandong da Zhi, atracado no litoral do estado. Esta nova linhagem preocupa porque se acredita que ela seja mais transmissível e parece contribuir para o agravamento da situação da Índia.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (20), o secretário de Saúde do Maranhão e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, informou que foram testadas 15 pessoas que estavam no navio após elas apresentarem sintomas da Covid-19. As seis amostras que passaram por estudo genômico deram positivo para a cepa indiana. Por conta disso, a tripulação se encontra isolada, e o navio, que não tem permissão para atracar na costa do Estado, continua ancorado.
De acordo com o especialista em genética e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcelo Paiva, há relatos desta variante na Índia desde setembro do ano passado, mas ela tornou-se mais frequente nos últimos meses. A cepa já foi detectada em mais de 50 países de todos os seis continentes. Ainda segundo o especialista, tudo o que se sabe até o momento em termos de informações científicas ainda precisa de mais estudos.
“Há informações sobre um maior contágio por essa variante. Lá no Reino Unido há uma preocupação enorme, pois houve um aumento absurdo de novos casos com essa variante. O problema dessa variante é ela ser inserida em um país que tem uma alta transmissão. E isso significa que a variante pode facilmente levar a cenários graves”, disse. Segundo Paiva, que também é pesquisador colaborador da Fiocruz, tudo indica que as vacinas disponíveis continuam a oferecer proteção contra essa variante e, principalmente, diminuindo o agravamento pela infecção.
Por enquanto, não há casos suspeitos com essa variante em Pernambuco. No entanto, em coletiva on-line realizada ontem (20), o secretário estadual de Saúde, André Longo, avaliou o impacto dessa nova cepa na estratégia de combate à pandemia e procurou apontar a responsabilidade pela entrada dessa variante no Brasil. Ele ressaltou que as variantes são sempre uma preocupação. Para o secretário, apesar da orientação da Anvisa com o reforço das barreiras sanitárias na entrada de estrangeiros, o governo demorou para proteger portos e aeroportos.
“É preciso dizer que o Brasil precisa agir, pois o controle de portos e aeroporto é de reponsabilidade do Governo Federal, para conter ou pelo menos retardar a disseminação dessas variantes”, disse Longo. O secretário informou participou de uma reunião com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e ela informou que o órgão está atuando para bloquear a disseminação da nova cepa. “Há toda uma vigilância sendo feita com apoio do Ministério da Saúde. Esperamos que isso possa ser contido”, disse Longo.
Medidas preventivas O infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) Filipe Prohaska afirma que a detecção da cepa indiana no Brasil não altera as medidas preventivas de combate e prevenção ao coronavírus. “O problema é que nós sabemos que os cuidados de isolamento e distanciamento não têm sido tão adequados por conta dos serviços de transporte público, como ônibus e metrô. Então, a gente não está conseguindo trabalhar direito com o vírus selvagem, imagina agora no contexto de uma nova variante”, disse.
Prohaska diz acreditar que não voltamos à estaca zero, pois apesar do surgimento de novas variantes atualmente sabe-se o que funciona ou não contra o vírus. “Mas o aparecimento da cepa indiana mostra o quanto precisamos ter cuidado pelo desconhecimento da capacidade dela junto à nossa população. Não há motivo para preocupação ou pânico, mas o melhor caminho continua sendo manter o isolamento social, uso de máscara e higienização das mãos”, orienta.