Por Cristiane Noberto / Correio Braziliense – O recém-nascido União Brasil (UB) mal chegou ao cenário político e eleitoral e já é motivo de cobiça. Com a maior bancada da Câmara dos Deputados, capilaridade em várias unidades da Federação e uma boa parcela dos fundos Eleitoral e Partidário, começa a ser cortejado por aqueles que querem ter ao lado um aliado poderoso. Mas esta é a parte visível do gigante, pois, internamente, várias arestas precisam ser aparadas em nome da união da legenda.
Uma questão que precisa ser resolvida é como ficam os bolsonaristas, que antes integravam as bancadas do DEM e do PSL — os dois partidos que deram à luz ao União Brasil. A cúpula trabalha com a certeza de que haverá saídas, como a da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que ontem anunciou estar embarcando rumo ao PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. O comando da nova legenda, porém, não acredita numa debandada, capaz de desidratar a bancada no Congresso.
“A legenda tem TV e rádio, estrutura, fundo, capilaridade e está em todas as unidades da Federação. Vamos conseguir equilibrar, entre saídas e ingressos, e permanecer ali em torno de 70 deputados”, previu o primeiro-secretário da legenda, Efraim Neto (DEM-PB).
Outra questão a ser equalizada são as candidaturas nos estados. Na Bahia desde já há um impasse: parte da bancada do UB pretendia apoiar o ministro da Cidadania, João Roma, para o Palácio de Ondina, mas o fator impeditivo é secretário-geral da legenda, ACM Neto — que pleiteia o mesmo posto.
Cenário intrincado
Se o tabuleiro de xadrez nos estados mostra peças em situação complicada, a corrida presidencial também aponta para um cenário de difícil coesão dentro do UB. Uma parte da agremiação quer seguir Bolsonaro em outubro, mas outra flerta com a possibilidade de atrair Sergio Moro (Podemos) para os quadros.
Segundo o presidente do UB, Luciano Bivar, já houve conversas com o ex-juiz da Operação Lava-Jato no passado e as coisas estão “fluindo”. A ideia, no entanto, é rechaçada com veemência pela presidente do Podemos, Renata Abreu.
“Moro é o melhor pré-candidato para a Presidência e se destaca com seu potencial eleitoral, capaz de acabar com a polarização dos extremos nas eleições deste ano. É natural que seja constantemente cortejado por outros partidos. Mas não existe conversa sobre mudança”, garantiu. A respeito da possibilidade de uma federação com o UB, Renata respondeu que não se discute isso. Na mesa, há, ainda, a possibilidade de o União Brasil dar o vice da chapa de Moro.
“Caso as divergências do partido não sejam superadas, a começar pelo alinhamento entre Luciano Bivar e ACM Neto, o partido corre o risco de contrariar o propósito pelo qual foi fundado”, alerta Matheus Albuquerque, sócio da consultoria Dharma Politics. (Colaborou Tainá Andrade)