Diante da disputa acirrada no segundo turno à prefeitura do Recife, Marília Arraes (PT) ganhou mais um aliado para enfrentar o primo João Campos (PSB). Trata-se de Antônio Campos, tio bolsonarista de João e irmão do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Em entrevista ao GLOBO, ele diz que a marca do PSB no estado é a “traição”. Também avalia que Marília tem legitimidade para reivindicar o legado do patriarca da família, Miguel Arraes. Segundo Antônio Campos, “os ventos da mudança” estão chegando à capital pernambucana. Desde a morte de Eduardo, em 2014, ele se afastou de parte da família. Hoje, está à frente da Fundação Joaquim Nabuco em Pernambuco, órgão vinculado ao Ministério da Educação do governo Jair Bolsonaro.
Como está acompanhando a eleição do Recife? Apoia a candidatura de Marília Arraes? Por quê?
Acompanho as eleições como qualquer outro cidadão. Voto em Olinda, onde já cumpri minha obrigação no dia 15 de novembro passado. Meu partido, o PRTB, não está apoiando nenhum candidato, neste segundo turno no Recife. Porém, se votasse no Recife, embora tenha grandes discordâncias com o PT, votaria na pessoa de Marília Arraes, em homenagem ao meu avô, Miguel Arraes.
Por que o senhor acha que a família se dividiu tanto politicamente após a morte de Eduardo?
A morte prematura e inesperada do meu irmão, Eduardo Campos, deixou um vácuo enorme de comando de poder. E Renata Andrade Lima (Renata Campos, mãe de João Campos) tem um projeto de poder que exclui qualquer pessoa que não se submeta aos seus caprichos e que não seja por ela comandado. Eduardo vivo equilibrava o jogo político.
Quando o senhor foi candidato em Olinda, houve pressão contrária do PSB? Como isso aconteceu?
Concorri, em 2016, à Prefeitura de Olinda pelo PSB. Havia resistência do PSB estadual, ante receio de se criar uma nova liderança. Estive com o governador Paulo Câmara e disse que se havia incômodo, poderia concorrer por outro partido. Ele pediu para que permanecesse no PSB. Disse também que teria apoio do partido. Não esperavam que eu chegasse ao segundo turno e, nessa fase, intensificaram, sem cerimônias, um forte trabalho para me derrotar eleitoralmente. Fui traído e perseguido. A marca do PSB em Pernambuco é a traição.
Acha que Ana Arraes deve disputar o governo de Pernambuco em 2022?
Não tenho procuração para falar pela minha mãe. O foco dela, no momento, é fazer uma grande e correta gestão frente à presidência do Tribunal de Contas da União. Em entrevista que concedeu a um jornalista de blog local, ela afirmou que não descarta a volta à política.
O senhor é filiado ao PRTB, uma legenda alinhada ao governo Jair Bolsonaro. Por que decidiu apoiar o presidente da República?
Votei em Bolsonaro no segundo turno para presidente, tendo no primeiro turno votado em Álvaro Dias. Foi um voto de ruptura, para se criar um novo ciclo. Entendo que o Governo Bolsonaro tem feito avanços no Brasil. O maior inimigo da democracia é a corrupção. O Governo Bolsonaro tem sido combativo nesse assunto. O auxílio emergencial durante a pandemia tem salvado vidas. O presidente tem enviando verbas para os municípios e estados. Só para Recife, foram enviados R$ 3 bilhões para o combate à Covid-19. Infelizmente, várias aquisições da Prefeitura do Recife, na gestão de Geraldo Julio (PSB), têm sido alvo de questionamentos, processos e operações da Polícia Federal.
Qual é a influência de Renata Campos na política do PSB e do Recife?
Ela, com Geraldo Julio, é o núcleo do poder, no Recife e mesmo no Estado.
Como vê a hegemonia do PSB na prefeitura e no governo de Pernambuco?
É bom para a democracia que haja alternância de poder. O PSB está com fadiga de material e o Recife está com ventos de mudança. As bandeiras políticas do histórico PSB foram trocadas por uma visão muito pragmática da política e da vida.
Algum dos candidatos na atual eleição do Recife representa o legado de Eduardo ou Arraes? Por quê?
O de Arraes, certamente, é representado por Marília, ante semelhança de ideias e postura.
Como avalia a estratégia da direita durante o pleito. Por que não foi bem-sucedida?
A divisão política foi o maior erro. O segundo erro foi a briga de Mendonça contra a Delegada Patrícia. Ele trabalhou para Marília, ao errar na estratégia.
O que acha do fato de esta eleição ser considerada uma “briga em família”?
A eleição do Recife não é uma briga de família. É uma briga de valores e de projetos. É a visão política de Arraes contra a visão pragmática do PSB, pós Eduardo. A eleição de Marília repara uma grave injustiça, reacende de forma correta o legado de um homem justo, Arraes.