“Será que ele termina o mandato?”
Josias de Souza
A pergunta foi feita por um deputado governista a um dos mais próximos auxiliares de Michel Temer. O aliado do governo acompanhara o noticiário político-policial ao longo de toda a quinta-feira. Telefonou para Brasília à noite, do aeroporto de Cumbica, antes de embarcar para sua “Páscoa em Paris”. O blog alcançou o viajante pelo celular, quando já estava dentro do avião. Antes que a comissária de bordo ordenasse o desligamento do aparelho, o repórter quis saber qual foi a resposta do auxiliar do presidente. E o deputado: “Ele me disse que o futuro do Temer depende de nós, que o apoiamos na Câmara. Depois, perguntou: que dia você volta?”
A conversa ajuda a entender os efeitos da prisão de amigos de Temer sobre o ânimo do Planalto. Nas próximas semanas, o presidente será forçado a trocar a fantasia de uma candidatura à reeleição pela dura realidade de uma nova batalha pela sobrevivência. O Planalto vive a síndrome do que está por vir. Numa reunião de Temer com os ministros palacianos, na tarde desta quinta-feira, falou-se às claras sobre a perspectiva de uma terceira denúncia criminal contra o presidente. Escalado para falar com os repórteres, o ministro Carlos Marun, coordenador político de Temer, demonstrou que o governo não tem muito a dizer.
Além de negar o receio de uma nova denúncia, algo que acabara de ser analisado num encontro do qual Marun participara, o articulador político de Temer declarou: “Entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de que venha a disputar a reeleição, colocar como concreta essa possibilidade faz com que novamente se dirijam contra nós os canhões da conspiração.” A declaração oscila entre o absurdo e o patético.
A conversa mole de Marun é absurda porque ninguém se daria ao trabalho de apontar canhões contra a candidatura natimorta de um presidente rejeitado por 7 em cada 10 brasileiros e que amealha nas pesquisas 1% de intenções de voto. O lero-lero do ministro é patético porque a procuradora-geral da República Raquel Dodge, indicada por Temer com o endosso do conselheiro supremo Gilmar Mendes, não se parece com uma conspiradora.
Foi Raquel Dodge quem pediu a prisão dos amigos do presidente e dos empresários sob suspeição. Alvo de Marun desde que ordenou a quebra do sigilo bancário de Temer, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso dos portos no Supremo Tribunal Federal, apenas concordou com os pedidos da procuradora-geral. Para desassossego de Temer, Dodge e Barroso enxergaram no processo indícios graves. Nas palavras do relator, o presidente figura no inquérito como suspeito de “cometimento de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa/organização criminosa.”
Mesmo sem denúncia, o estrago político será enorme. Nos próximos dias, ganharão as manchetes, por exemplo, notícias sobre a reforma na casa de uma das filhas de Temer. Coisa de 2014. Assina o projeto a arquiteta Maria Rita Fatezi, mulher de João Baptista Lima. Chamado na intimidade de coronel Lima, ele é um dos presos desta quinta-feira. Amigo de Temer há três décadas, é apontado pela Polícia Federal como operador de propinas do presidente. O coronel e sua mulher são sócios na empresa Projeção e Direção Arquitetônico (PDA).
Sobre a PDA, a Polícia Federal anotou nos autos: “Trata-se de empresa que realizou reforma de alto custo em imóvel da senhora Maristela Temer, filha do excelentíssimo senhor presidente da República. Há informações sobre pagamentos de altos valores em espécie.”
Continua…