Dunga ganhou uma segunda chance como técnico da seleção brasileira quatro anos depois de falhar na Copa do Mundo da África do Sul, num roteiro de glórias e fracassos, de liderança e teimosia, que repetiu sua trajetória como jogador.
Antes do Mundial de 2010, a equipe brasileira tinha conquistado os principais torneios que disputou, a Copa América de 2007 e a Copa das Confederações de 2009, além de ter terminado as eliminatórias sul-americanas em primeiro lugar e do bronze nos Jogos Olímpicos de 2008.
Na Copa do Mundo, no entanto, o time comandado por Dunga tomou a virada da Holanda no segundo tempo das quartas de final e não teve forças para reagir, em jogo que ficou marcado pela expulsão do volante Felipe Melo –criticado pela torcida mas bancado pelo treinador– e pelo erro na saída de bola do goleiro Julio Cesar.
“Eu acho que a gente tem que ser realista para analisar. Não pode analisar pela simpatia. O trabalho que ele fez foi muito bom… Até o meio tempo da Holanda estava perfeito o trabalho. É que em 45 minutos mudou toda a vida dele e da seleção brasileira”, disse o técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, no fim de semana.
Mas houve questionamentos sobre as escolhas de Dunga para o Mundial da África do Sul, uma vez que ele levou Grafite e deixou de convocar Paulo Henrique Ganso e Neymar, que estavam despontando como promessas no Santos, refletindo algumas das características pelas quais o técnico é conhecido: a teimosia e liderança.
Gaúcho de Ijuí, Dunga, com 50 anos, também não costuma ser uma pessoa afável. No trato com os jornalistas, prefere ser rude, e não tem apoio entre os torcedores, tanto que seu nome nem foi citado em pesquisa Datafolha da semana passada sobre quem deveria substituir Luiz Felipe Scolari. Tite foi o preferido.
Depois de deixar o comando do Brasil, Dunga, que iniciou sua carreira de treinador justamente na seleção, em 2006, teve uma passagem sem brilho pelo Internacional, onde conquistou o título do Campeonato Gaúcho em 2013, mas acabou demitido do clube onde começou como jogador por causa dos maus resultados no Campeonato Brasileiro.
Conhecido por ser um profissional sério e dedicado, ainda tem pouca experiência como técnico, apesar dos quatro anos que comandou a seleção.
“Era Dunga” e tetra
Ex-volante aguerrido, Dunga, cujo nome é Carlos Caetano Bledorn Verri, foi símbolo de uma equipe derrotada na Copa do Mundo de 1990 pela Argentina, em período que ficou conhecido como a “Era Dunga”, devido ao estilo de jogo mais forte na marcação e menos criativo.
Quatro anos depois, ele foi o capitão da conquista do tetracampeonato do Brasil, mostrando liderança dentro e fora de campo.
“O tempo é o melhor remédio. A nossa seleção de 1994, nossa geração, era muito forte… Se não foi uma seleção exuberante tecnicamente, como muitos falam, mas que eu discordo, foi uma seleção extremamente vencedora”, afirmou Dunga em entrevista em 2011.
Em 1998, Dunga foi novamente capitão da seleção brasileira em uma Copa do Mundo e um lance que ficou marcado no torneio foi uma leve cabeçada que o então volante acertou no ex-atacante Bebeto, após dar uma bronca no companheiro durante um jogo. Aquele time acabou vice-campeão.
Como jogador, Dunga viveu o inferno antes de se consagrar como vencedor. Agora como treinador, ele tem nova oportunidade de chegar ao céu, que só virá com o título mundial na Rússia, em 2018.