O brasileiro que não abre mão de ter um telefone fixo em casa precisa lidar diariamente com as inúmeras ligações de empresas de telemarketing.
Seja para oferecer serviços, seja para fazer cobranças, as chamadas costumam ocorrer em horários inapropriados e repetidamente.
No primeiro semestre deste ano, o ReclameAqui registrou 280 queixas envolvendo esse serviço. Em comparação com o mesmo período de 2017, o índice aumentou 16%, quando houve 240 registros.
Se consideradas as insatisfações dos clientes com ligações também para celulares, as reclamações chegam a 662 nos seis primeiros meses de 2018.
Os principais incômodos dos usuários são de vendas de novos pacotes, chamadas gravadas e ligações mudas. Sobre esta última, o consumidor tem mais dificuldade para reclamar, uma vez que não há como identificar a empresa que liga.
O tradutor Jefferson José Teixeira, 60, recebe, no mínimo, duas vezes por dia chamadas da Vivo, desde abril. Apesar de não ser cliente da operadora há mais de seis anos, a empresa continua oferecendo serviços.
“Eu trabalho de casa e, muitas vezes, penso que é um cliente meu. Isso desgasta.”
Ele já fez diversas tentativas para acabar com o incômodo, mas até hoje nada surtiu efeito. “Coloquei meu telefone no bloqueio do Procon, entrei em contato com a ouvidoria da empresa e acionei a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações]”, diz.
Sobre as queixas dos usuários por ligações abusivas, a Vivo afirma que está em processo de reforma na abordagem dos atendentes de telemarketing. Segundo a operadora, as mudanças visam reduzir o volume de chamadas.
“A geração de mailing respeita os critérios de acordo com o perfil do público e filtra clientes que não desejam receber ligações”, afirma.
Para o diretor de fiscalização do Procon-SP, Osmário Vasconcelos, é preciso mudar a legislação para conter as empresas.
“Essa realidade só vai acabar com novas regras que devem ser definidas pelo governo federal”, afirma.
Segundo ele, a saída é limitar os dias e os horários em que as empresas ligam.
O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) espera uma solução da Anatel.
De acordo com a pesquisadora do Idec Bárbara Simão, “deve-se seguir os moldes de lista como a dos Procons”.
A aposentada Maria Amélia Lopes, 69, levou mais de um ano para conseguir acabar com as inúmeras ligações realizadas pela Net.
“Eu usei os serviços da empresa por mais de dez anos, mas, quando mudei de operadora, os incômodos começaram. Três vezes por dia meu telefone de casa tocava”, diz.
A Net afirma, em nota, que segue a legislação. A empresa diz ainda que “irá reforçar os procedimentos necessários para evitar o recebimento de ligações indesejadas”.
O Sistema de Cadastro de Bloqueio ao Telemarketing, do Procon-SP, deve registrar o dobro de reclamações neste ano. Até o começo de julho, foram 13 mil denúncias, contra 17 mil no ano passado inteiro.
Em 2017, foram 35 notificações e 12 multas, que podem variar de R$ 700 a R$ 9 milhões.
COMO ELIMINAR O INCÔMODO DAS LIGAÇÕES
Principais queixas
· Oferta de produtos
· O telefone toca, mas fica mudo ao ser atendido
· Gravações
Veja como se proteger
· Se houver incomodo, é preciso ligar na empresa e pedir para retirar o seu número da lista de ligações Também é possível acionar a ouvidoria da empresa e abrir um protocolo de reclamação
· Caso o problema não seja solucionado, existe ainda o bloqueio de telemarketing do Procon-SP
· É possível entrar no site da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e fazer uma nova reclamação