Por: Michelle Portela – Correio Braziliense – As taxas de juros cobradas pelos bancos nas operações com empresas e pessoas físicas atingiram patamares recordes no ano passado. No cartão de crédito, uma das modalidades mais utilizadas pelos consumidores, a taxa de juros do crédito rotativo chegou a 409,3% ao ano no fim de 2022 — o nível mais elevado da série estatística do Banco Central (BC), que começou em 2012. No ano, o salto dos juros foi de 61,9 pontos percentuais, uma vez que, em dezembro de 2021, a taxa média do rotativo era de 347,4%.
O aumento dos encargos do cartão pressionou ainda mais o endividamento das famílias com operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN), que alcançou 49,5% da renda em dezembro passado. E produziu um aumento da inadimplência das pessoas físicas no cartão, que subiu 9 pontos porcentuais em 2022, chegando a 44,7% no fim do ano, considerada a maior taxa da série histórica do BC.
Devido ao alto custo, a utilização do cartão de crédito na modalidade rotativa é desaconselhada por especialistas. “Quando o cliente entra no cartão de crédito rotativo, ele já teve dificuldade de pagar toda a fatura na origem. Economicamente, é como se ele já estivesse inadimplente na partida. Por isso as taxas de inadimplência no cartão de crédito rotativo são muito elevadas, na faixa de 40% a 44%”, disse o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, ao divulgar os números.
O crédito rotativo do cartão de crédito é acionado mensalmente por consumidores que não conseguiram pagar o valor total da fatura na data do vencimento. Por determinação do BC, quando o cliente não consegue reduzir a dívida no rotativo, os bancos devem, automaticamente, enquadrá-lo numa operação de crédito parcelado. Em dezembro, a taxa média dessas linhas estava em 182,4% ao ano.
Crédito livre
De acordo com os dados o BC, a taxa média de juros cobradas pelos bancos, considerando todas as modalidades no chamado crédito livre (que não é regulamentado por regras específicas, como financiamentos habitacionais e agrícolas), subiu 8,2 pontos percentuais no ano passado, chegando a 42% ao ano, em dezembro.
Segundo o BC, a taxa média nas operações com empresas subiu de 19,7% ao ano, em dezembro de 2021, para 23,1% ao ano no fim de 2022. Já nas operações com pessoas físicas, os juros passaram de 45% para 55,8% no ano, uma alta de 10,8 pontos percentuais.
A subida dos juros é resultado do aperto da política monetária conduzida pelo Banco Central com o intuito de segurar a inflação. Para alcançar esse objetivo o BC usa a taxa básica de juros, a Selic, que avançou 4,5 pontos percentuais, que começou o ano passado em 9,25% ao ano e chegou a 13,75% em agosto, quando foi aumentada pela última vez.
Cheque especial
A Selic influencia, de maneira direta ou indireta, todas as demais taxas do mercado. Com a elevação dos juros, fica mais caro, para o consumidor, realizar compras a prazo ou que exijam financiamento bancário. O resultado esperado é uma queda na demanda e, consequentemente, do preço das mercadorias e serviços.
No cheque especial, modalidade de crédito também muito utilizada por pessoas físicas, a média de juros passou de 127,9% ao ano, em dezembro de 2021, para 131,9% no fim de 2022.
Ainda segundo o Banco Central, em 2022, o crédito livre às famílias atingiu R$ 1,8 trilhão, o que significou crescimento de 17% no ano, após variação de 23% em 2021.
“Destaca-se a expansão das modalidades crédito pessoal não consignado; crédito consignado para servidores públicos, para aposentados e pensionistas do INSS; aquisição de veículos; e cartão de crédito”, informa nota divulgada pelo BC.355