Um detalhe no discurso do presidente Jair Bolsonaro, na Assembleia Geral das Nações Unidas, não foi bem tragado nos bastidores do Congresso: a exaltação do ministro Sérgio Moro como “símbolo do meu país”. Nas coxias, parlamentares leram que o presidente teria escolhido o lado dos “lavajatistas” e que isso poderia equivaler a colocar a prêmio a cabeça do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, alvo da operação Desintegração na última quinta-feira. Havia, ontem, quem apostasse, inclusive, que o senador poderia precipitar a saída da liderança para “não correr o risco de ser demitido pelo Twitter”. FBC estaria avaliando a chance de entregar em definitivo o cargo, segundo pessoas próximas. Pesou negativamente ainda na relação de FBC com o governo o eco que se deu, nos últimos dias, à hipótese de Fernando ficar na liderança “por enquanto”, só até de as indicações de Augusto Aras para PGR e de Eduardo Bolsonaro para embaixador nos Estados Unidos serem sacramentadas. Já na tarde de ontem, cinco dias após ser alvo da operação Desintegração, Fernando subiu à tribuna e sublinhou que a mesma se deu “sem o aval da Procuradoria Geral da República”. Disse que foi “vítima de uma operação política, articulada para atingir o Congresso Nacional e o Governo do Presidente Jair Bolsonaro”. Colocou, assim, o governo Bolsonaro na condição de se defender junto. O presidente da Casa Alta, Davi Alcolumbre, já havia grifado, em nota, que a operação tinha “potencial de atingir o Executivo”. Ainda em seu discurso, FBC dispensou agradecimentos a Davi Alcolumbre, a Rodrigo Maia e ao líder do MDB, Eduardo Braga.
Na esteira, o Congresso Nacional derrotou 18 vetos de Bolsonaro à Lei de Abuso de Autoridade. A sessão foi antecipada em função da operação que atingiu Fernando. Líder do PSL no Senado, Major Olímpio afirmou que a operação teve interferência na votação. Relator da lei, o deputado Ricardo Barros, ao comentar a derrubada dos vetos, chegou a ironizar a decisão do ministro Luis Roberto Barroso, que autorizou a operação: “Foi muito melhor do que eu esperava. Obrigada, Barroso”. Se o Congresso deu uma resposta ao caso envolvendo Fernando Bezerra, que já colocou o cargo à disposição, o presidente Jair Bolsonaro segue em silêncio, o que pode terminar precipitando uma saída do líder do cargo. (Renata Bezerra-Folha de Pernambuco)