Sete faces do racismo: relatos impressionantes mostram que o Brasil está longe de abolir o preconceito…

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Não é rara a publicação de fatos e estatísticas que demonstram o quanto a população negra do Brasil ainda tem que lidar com preconceito e discriminação. Há muita gente, no entanto, certa de que o racismo foi abolido da nossa sociedade. Para marcar o dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro, o R7 conversou com pessoas que enfrentaram situações humilhantes em decorrência da cor de sua pele. Os relatos nos colocam de frente para uma realidade que acontece todos os dias, mas insistimos em mascarar. 

Em setembro, a dançarina Dandara Marques foi vítima de racismo nas redes sociais. Em uma postagem em que ela aparecia com os cabelos soltos em uma página de beleza negra de Pernambuco, um internauta escreveu “me dê uma caixa de fósforos que faço progressiva nessa infeliz”. O caso ganhou repercussão nacional e, mais de um mês depois do ocorrido, as medidas legais para prender o suspeito estão em andamento.  
Quando se deparou com a situação, Dandara diz que ficou, primeiramente, “sem entender bem” o que tinha acontecido. As palavras do suspeito deixaram a dançarina com um “sentimento ameaçador”, mas ela não ficou calada. 

— Logo após me veio em mente que eu precisava fazer algo, fazer uma denúncia e efetivar o meu direito […] Desde que me apresentei ao mundo, sofro racismo, mas não dessa forma. Não através de uma rede social que boa parte do mundo tem acesso. 

Segundo ela, “ver o negro esclarecido na sociedade, para alguns, é algo inacreditável” e os negros precisam se fortalecer para combater qualquer tipo de racismo que sofram. Ela diz que algumas pessoas chegaram a falar com ela depois do episódio traumatizante para dizer que se sentiram representadas e encorajadas para denunciar outros atos racistas. 

— Me sinto agradecia pela contribuição de todos, que foi também através dessa força que venho conseguindo dar continuidade ao caso.
O caso de racismo sofrido por Dandara não é isolado. De acordo com o secretário especial de políticas de promoção da igualdade racial da Presidência, Ronaldo Barros, grande parte do preconceito está ligada ao fato de o racista perceber que o negro que sempre “serviu” a ele está conquistando outros espaços e que eles precisam, cada vez mais, ter oportunidades para gerar uma representatividade da população negra em grandes espaços de decisão. 
— Nós [negros] somos 53% da população. A representatividade cria uma referência positiva e é crucial para que evite esse problema.

Analisando o casting de modelos de uma das maiores agências do mundo, podemos observar que de um total de quase 250 modelos, apenas 20 delas são negras. Recentemente, a atriz Viola Davis entrou para a história por ser a primeira mulher negra a ganhar um Emmy como melhor atriz em série de drama.

Continua…

Michelle Fernandes sentia falta de roupas e acessórios no mercado que atendessem à sua demanda. Então, para emponderar mulheres negras e fazer com que elas se expressassem, ela criou a Boutique de Krioula. A empreendedora diz que “queria ser vista como mulher negra e com todas as minhas características”.  

— A demanda está grande, 54% da população é negra e, com as pessoas se emponderando, elas estão querendo mostrar que são negras, querem comprar coisas que as representem. 

A marca vende, por exemplo, turbantes que resgatam a cultura africana e deixam as mulheres negras ainda mais confiantes. Para Michelle, tudo depende do exemplo dos pais, que têm que mostrar desde cedo como a criança é bela do jeito que ela nasceu. 

— Quando criança, eu tive meu cabelo alisado e vivi sem saber como era meu cabelo. Botaram na minha cabeça que é ele era dessa forma. Agora, os pais estão falando outras coisas para as crianças. É uma questão de referência.

Muitas vezes, crianças e adultos negros ouvem de todos os lados que o cabelo deles “é ruim”. A professora de história Juliana Serzedello Lopes diz que esse tipo de racismo vem travestido de “liberdade de expressão”, mas que isso não é uma opinião.  

— A liberdade é válida a partir do momento em que você não fere outra pessoa.

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as negras representam um quarto da população do Brasil. Mesmo assim, uma rápida análise feita com três marcas nacionais mostra, por exemplo, que existem três vezes mais opções de maquiagem para a mulher branca do que para a mulher negra. Enquanto para a pele branca encontramos sete variações, apenas três são destinadas a mulher negra. (R7)