O diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, anunciou, na manhã desta sexta-feira 2, que será exonerado do cargo após desavenças com o presidente Jair Bolsonaro.
Galvão se reuniu com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para esclarecer a metodologia de aquisição das informações. “Minha fala sobre o presidente gerou constrangimento, então, eu serei exonerado”, disse o diretor do Instituto.
A polêmica entre Galvão e Bolsonaro se deu após o Instituto ter divulgado uma pesquisa sobre o aumento no desmatamento da Amazônia. O presidente afirmou que o Inpe estava agindo a serviço de alguma ONG. “Você pode divulgar os dados, mas tem que passar pelas autoridades até para não ser surpreendido. Até por mim, eu não posso ser surpreendido por uma informação tão importante como essa daí”, afirmou Bolsonaro.
Após a fala de Bolsonaro, Galvão rebateu: “Ao fazer acusações sobre os dados do Inpe, na verdade ele faz em duas partes. Na primeira, ele me acusa de estar a serviço de uma ONG internacional. Ele já disse que os dados do Inpe não estavam corretos segundo a avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise de dados“.
A pesquisa polêmica
Dados preliminares do Inpe mostram que mais de 1 mil km² de floresta amazônica foram devastados só na primeira quinzena de julho deste ano. O número representa um aumento de 68% em relação a julho de 2018. O levantamento é do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), plataforma criada em 2004 que produz, diariamente, alertas de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que três hectares. Os alertas são enviados automaticamente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Procurado, o Inpe afirmou a CartaCapital que o objetivo do sistema Deter é disponibilizar dados em tempo real. Isso quer dizer que submetê-los à consulta do presidente da República antes da divulgação fugiria da praxe do órgão e do propósito da plataforma. Além disso, o Instituto publica relatórios mensais para reunir esses dados. Esses documentos, segundo a instituição, já são submetidos ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) e ao Ibama antes da divulgação. (CartaCapital)