Por: Guilherme Anjos/Diário de Pernambuco – Eleitores de 51 cidades brasileiras, incluindo 15 capitais, retornam às urnas neste domingo (27) para votar no segundo turno das eleições e decidir seu prefeito para os próximos quatro anos. E o resultado da disputa nos maiores colégios eleitorais do Brasil já começa a montar o tabuleiro político para o pleito de 2026.
Com o maior número de eleitores do país, com 34.403.609 de títulos regularizados junto à Justiça Eleitoral, 9,3 milhões na capital, São Paulo (SP) é palco da disputa mais acirrada deste ano, e talvez a mais importante para o futuro próximo do Brasil.
Após um primeiro turno marcado por desinformação e agressões físicas e verbais, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) chegaram à reta final da corrida eleitoral.
A última pesquisa Datafolha antes do segundo turno revelou que o aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manteve à frente com 49%, contra 35% do apoiado pelo presidente Lula (PT).
O embate entre as pontas do espectro se repete na maioria das capitais, mas o cenário previsto pelas pesquisas não tem favorecido as frentes progressistas. A direita aparece liderando em colégios eleitorais determinantes, como Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e Manaus (AM) – este, com a direita em ambos os lados do confronto.
Em Belo Horizonte, terceira maior capital por número de eleitores, o prefeito Fuad Noman (PSD) – apoiado pelo PT – viu uma virada nas intenções de voto contra Bruno Engler (PL), mas se recusa a se aproximar de Lula, uma estratégia que mostra o desgaste do Partido dos Trabalhadores na cidade.
Para o cientista político Sandro Prado, esse cenário evidencia mais do que a manutenção das forças conservadoras no país, mas o contínuo desgaste da esquerda mesmo após a vitória de Lula nas eleições de 2022 e uma melhoria do desempenho do campo progressista em 2024.
“Os segmentos urbanos e de classe média, especialmente nos centros metropolitanos, parece ter encontrado nas narrativas da direita uma proposta mais eficaz de ordem, moralidade e estabilidade econômica, mesmo que de forma totalmente retórica. Para 2026, o campo lulista enfrentará desafios em ampliar sua base para além das áreas historicamente favoráveis, como o Nordeste”, afirmou Prado.
E mesmo no Nordeste, a única capital garantida da esquerda é o Recife, com a reeleição do prefeito João Campos (PSB), que tenta conquistar ao menos um território no Norte para os progressistas, costurando aliança com Igor Normando (MDB) em Belém (PA).
Fragmentação bolsonarista
Apesar do bom desempenho nas eleições municipais deste ano, nem tudo são flores no campo da extrema-direita. Com Jair Messias inelegível, os bolsonaristas começaram a se divergir em busca de novas lideranças representativas. O cientista político Sandro Prado observa que tal movimentação já pode ser observada nas urnas.
“O caso de São Paulo, com a dispersão dos votos bolsonaristas entre Nunes e Pablo Marçal (PRTB), reflete essa disputa interna. A fragmentação das lideranças é sintomática. O apoio do pastor Silas Malafaia a Nunes, contrastando com a neutralidade ou desinteresse de Bolsonaro, demonstra que o capital político bolsonarista não é totalmente transferível”, analisa Prado.
“Ainda mais complexo é o apoio de figuras como Nikolas Ferreira a Marçal, uma aliança que simboliza o crescente protagonismo de lideranças mais jovens e carismáticas, porém menos alinhadas ao núcleo original do bolsonarismo”, completou.
Apesar disso, o cientista político acredita que a direita populista ainda não encontrou uma liderança carismática o bastante para ‘reorganizar a casa’, o que deve dividir os votos nas urnas em 2026.
“A ausência de uma figura centralizadora capaz de coordenar essas forças indica uma dificuldade em criar uma coalizão sólida até 2026. Nenhuma liderança atual, seja Nikolas Ferreira, Romeu Zema ou Tarcísio de Freitas, demonstra até agora a capacidade de substituir Bolsonaro com a mesma eficácia de agregação. Assim, o movimento conservador poderá enfrentar maior fragmentação nos próximos ciclos eleitorais, com múltiplas candidaturas e perda de coesão estratégica”, pontuou.