A “guerra dos buscapés”, vivenciada sempre no dia 29 de junho, foi iniciada em João Alfredo no final da década de 50, sendo uma das características mais fortes e tradicionais da cultura junina desta cidade, no Agreste de Pernambuco. De início a brincadeira era realizada às margens do antigo açude (extinto) do Engenho Boa Vista e na Praça da Bandeira, nas imediações da residência do falecido Pedro Carlos de Oliveira, que tinha no seu filho, o fogueteiro Alonso Carlos, um grande incentivador. A partir de 1983, na gestão do prefeito Cavalcanti Júnior (falecido), um grupo de jovens criou uma quadrilha junina chamada “puxando fogo”, que expandiu a brincadeira às principais ruas e praças, num visual bonito, mas que causava sérios danos aos patrimônios público e privado. Nos anos 2020 e 2021, por causa da pandemia, o evento foi suspenso.
Neste ano, o prefeito Zé Martins recebeu muitos apelos para que a “guerra” não fosse realizada. Mas, por outro lado, reconheceu que essa tradição não poderia cair no esquecimento, apesar das recomendações sanitárias contrárias, em virtude dos problemas respiratórios e até possíveis queimaduras a que os brincantes ficam expostos. Outro problema seria danos materiais aos prédios e logradouros públicos. Desta forma, o prefeito juntamente com assessores procurou informações na cidade de Sairé acerca do festival de buscapés que anualmente é realizado naquela localidade, e trouxe o modelo da estrutura lá usada para os folguedos da Cidade Feliz.
Sendo assim, a “guerra dos buscapés 2022” praticamente voltará para o local de origem, mas de forma diferente. Grande parte da Rua João Vicente da Fonseca, no bairro Boa Vista, ao lado do Ginásio Poliesportivo Djair Santos, está recebendo da Prefeitura Municipal de João Alfredo uma proteção geral de alambrado, obviamente para evitar a depredação patrimonial, bem como garantir a mobilidade das pessoas que não estão participando da brincadeira. Além desta proteção em cerca aramada outras medidas de segurança são tomadas, tais como a proibição do estacionamento de veículo nas imediações, circulação de pessoas e a presença de equipe de saúde.
“Não podemos deixar que esta nossa tradição acabe. Por isso, estamos providenciando esta estrutura aramada para a garantia física tanto dos brincantes quanto dos assistentes, dotando a brincadeira dos buscapés de um local próprio , seguro e até certo ponto atrativo. Com esta medida, procuramos satisfazer aos brincantes e garantir o direito de ir e vir de todos os munícipes”, disse o prefeito Zé Martins.
Durante todo o mês de junho, é comum a brincadeira acontecer de forma isolada nos sítios. Mas é na festa de São Pedro, 29 de junho, que acontece o ápice dos festejos, com a cidade agora cuidadosamente preparada pela prefeitura para a queima dos buscapés, que acontecerá ao lado do Ginásio Poliesportivo Djair Santos. Soltar buscapés não é uma exclusividade masculina. As mulheres também participam, com a mesma coragem dos homens. Sem demonstrar medo, elas se misturam ao grupo masculino no meio da rua, bem no caminho dos arremessos do foguetório.
Canos de PVC ao invés de tabocas
A fabricação do buscápé é artesanal e feita por fogueteiros locais. Todo o processo de produção dura aproximadamente seis semanas e é realizado com o máximo cuidado, por se tratar de insumos altamente explosivos. Recomenda-se o uso do bambu (taboca), que é o corpo que abrigará a mistura de pólvora, salitre e enxofre. Infelizmente boa parte dos brincantes de João Alfredo ultimamente usa canos de pvc ao invés das tabocas, aumentando consideravelmente o risco de acidentes (cortes) entre os participantes da “guerra”.