São João mais acanhado no Nordeste…

A deterioração da economia brasileira, a queda na arrecadação e a crise provocada pelos escândalos de corrupção na Petrobras fizeram queimar na fogueira os recursos para que prefeitos do Nordeste possam organizar as tradicionais festas de São João, que se iniciam nas próximas semanas. No interior dos estados, as festas juninas são o principal evento popular do ano, atraem turistas, movimentam as economias locais, geram empregos e garantem dividendos políticos para os prefeitos.

“Ou eu pago a folha dos professores ou eu faço o São João. Não tem outra saída”, desabafa a prefeita de Cardeal da Silva, Maria Quitéria Mendes (PSB). Diante de crescentes dificuldades orçamentárias e da queda na arrecadação, a prefeita optou por uma decisão drástica: cancelou a festa programada para os 9,6 mil habitantes do município, localizado a 142 km de Salvador.

“As pessoas ficam indignadas com o prefeito, a culpa é sempre do prefeito, mas a conta não fecha, quando você arrecada menos e gasta mais com saúde e educação”, comenta Quitéria, que preside a União dos Prefeitos da Bahia.

A mesma decisão foi tomada pelo prefeito Antônio Carlos Paim Cardoso (PT), do município de Amélia Rodrigues, para quem o São João é “supérfluo”, consideradas as atuais circunstâncias.

“O momento atual não é de fazer festa nenhuma, a gente tem de se precaver pra passar o ano e ver como vai ficar o andamento da economia”, diz o petista. Nas contas do prefeito, uma festa junina de médio porte não sai por menos de R$ 200 mil. “Essa despesa é um negócio impossível”, afirma.

No município de Nordestina (BA), o São João da crise terá mais bandas locais e durará menos dias, informou o secretário de administração da prefeitura, Giovanni Oliveira. Em Mutuipe, a diminuição dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e uma derrota na Justiça por conta de um processo milionário envolvendo desapropriação de terras levaram a prefeitura a cancelar a festança.

Em Candeias (BA), até São Pedro atrapalhou. Castigado por fortes chuvas recentemente, o município decretou situação de emergência e cancelou por 90 dias todos os eventos festivos, inclusive o São João. Até o fechamento desta edição, a reportagem não havia obtido retorno da Bahiatursa,  empresa de turismo vinculada ao governo da Bahia.

Contraste

Se os pequenos municípios enfrentam uma série de dificuldades, os grandes ainda conseguem garantir a festa, ancorados na tradição e na obtenção de diferentes fontes de patrocínio. O São João de Campina Grande (PB) ocorrerá de 5 de junho a 5 de julho e deve atrair 2 milhões de pessoas. Em Caruaru, a festa terá show de Elba Ramalho e homenageará o ex-governador Eduardo Campos. (Diário de Pernambuco)