Ruralista troca Alckmin por Bolsonaro…

Folha de S. Paulo

Por Igor Gielow 

O agronegócio está fechado com a pré-candidatura de Jair Bolsonaro porque o isolamento do deputado do PSL-RJ permite que ele assuma posições defendidas pelo setor, como o reforço da segurança no campo contra roubos e invasões.

A avaliação é de Frederico D’Ávila, 40, diretor da Sociedade Rural Brasileira que elabora o programa de governo de Bolsonaro da área.

D’Ávila é o mais graúdo aliado de Geraldo Alckmin, o presidenciável do PSDB, a migrar para a órbita de Bolsonaro até aqui. De 2011 a 2013, ele foi assessor especial do então governador paulista para agro, e até aqui era seu principal consultor junto ao setor. 

Então filiado ao PP, D’Ávila era uma das vozes aliadas de Alckmin a alertar sobre a atração que o deputado vinha exercendo junto a produtores rurais. Sem ser ouvido, abraçou a causa de Bolsonaro, filiando-se ao PSL para disputar uma vaga na Câmara.

Ele é irmão do coordenador de comunicação da pré-campanha do tucano, o cientista político Luiz Felipe D’Ávila.

Produtor de grãos, diz manter o respeito por Alckmin, mas considera que seu momento para tentar ser presidente passou. “O Geraldo é um piloto de 747, só que estamos sobre a Síria. O Bolsonaro é um piloto de F-16”, diz.

O que o levou a se aproximar de Bolsonaro, após tantos anos na órbita de Alckmin?

Eu continuo tendo o Geraldo como um grande amigo, um grande professor na atividade pública. Na campanha [presidencial do tucano] de 2006, da qual eu participei bastante, a gente percebia muito o apoio na rua. Agora eu não vejo isso. Por quê?

Porque quando você quer juntar demais e desagradar de menos, você acaba sem margem, bem engessado. Isso é bem claro no meu setor. O Bolsonaro, até por não ter esse leque de alianças, pode se posicionar da maneira que bem entender. Ele abraçou as bandeiras do setor. 

A imagem do Geraldo não sofre abalo nenhum em relação a caráter e retidão, mas não é o momento. Estamos com o país na UTI e querem tratar o paciente com homeopatia. Nós precisamos é de antibiótico. Não é para tomar a vida inteira, é por um período. 

Continua…

O sr. fala muito no agro. Mas acha que Bolsonaro atende às demandas fora dele?

Atende. Esse presidencialismo de coalização não funciona. Você tem de dar ministério, cargo, secretaria em troca de apoio. Bolsonaro gosta do modelo americano, de 15 pastas. 

Virou uma cultura no Brasil tornar o militar um cidadão de segunda classe. Não conheço oficial-general que tenha sido mal formado. O Bolsonaro já disse que quer colocar militares nos ministérios por competência.

O sr. acha que, ganhando a eleição, Bolsonaro governa? Com o sistema existente?

Ele respondeu a essa pergunta num evento no banco BTG: “Se você quiser um governo que dá ministério em troca de voto, já peço para não votar em mim”. A plateia veio abaixo.

Agora, se você me perguntar como faz… Eu sou agricultor, aprendi a cultivar a terra de uma maneira. Chega uma pessoa falando que vai cultivar de outra forma, você fica olhando. Tem de haver outro meio, desse jeito não tem como continuar.

O sr. não vê no Alckmin a pessoa para essa ruptura.

Eu acho que tanto o Geraldo quanto o Bolsonaro seriam bons para o Brasil, só que um tem mais condições neste momento. O Geraldo é um piloto de [Boeing] 747 da [companhia aérea alemã] Lufthansa: não vai chacoalhar, vai jantar, atravessar o Atlântico bem tranquilo. Só que não estamos voando em céu de brigadeiro, estamos voando sobre a Síria. O Bolsonaro é um piloto de [caça] F-16. O Brasil precisa de um piloto de F-16.

O país foi arrebentado, precisa de uma depuração da máquina pública. Falo pelo meu setor inclusive. Veja a Operação Carne Fraca [que apura irregularidades em frigoríficos], tinha agente corrupto.

O sujeito faz concurso e sabe o quanto vai ganhar, não é para fazer rolo. Isso diz respeito ao Bolsonaro: se alguém chega para ele para falar de estrutura de campanha, de dinheiro, ele já pula fora.

Por outro lado, a campanha dele está embrionária em termos de estrutura.

É, mas também não é para ninguém fazer campanha agora.

Mas ele está em campanha há dois anos.

Mas isso que você está vendo é muito da parte dos entusiastas dele. E ele tem de estar no Parlamento terça, quarta e quinta.

Ele é um político profissional, não tem boa produtividade no Congresso. Saindo desse “momento Bolsomito” em aeroportos, ele passa pelo escrutínio de uma campanha?

Acho que sim. Os 28 anos de Parlamento dele lhe dão total estofo. Ele não se diz um não político. É um parlamentar de segmento que virou figura nacional.

E as polêmicas todas nas quais ele se envolveu?

Você não está acreditando na evolução do ser humano…

Não.

[Risos] Veja aquelas declarações polêmicas. Se você pegar um Fernando Gabeira, um José Serra na década de 70, eles não corroboram aquela linha nos dias de hoje. Chamar o Bolsonaro de misógino e racista? Isso não é verdade. Ele trabalha com mulheres e negros.

Mas ele é processado por isso no Supremo [disse que não estupraria a deputada petista Maria do Rosário porque ela “não merecia” em uma discussão].

Mas você vê aquela cena, é ela que estava defendendo um criminoso. Ele é um cara risonho, brincalhão, afetuoso. E o pavio dele está muito mais longo do que antigamente. O que irrita ele é que só falam dessas coisas antigas.

E o agro? Qual é o projeto que o sr. faz para ele?

Se você for olhar a pauta dos candidatos, exceto aqueles que são contra o modelo produtivo, as demandas são as mesmas. De diagnóstico estamos cheios, temos de fazer. Precisamos de logística.

Precisamos de segurança no campo, tanto contra roubo de insumos quanto jurídica, contra invasão e demarcações arbitrárias.

Por fim, estabilidade e previsibilidade na concessão de crédito. Falam que a gente quer dinheiro subsidiado. É que há uma distorção original, que é a taxa de juros do país não ser competitiva. Precisamos de uma equalização para poder competir. 

Vocês se falam sempre, o sr. já apresentou esses pontos?

Não falamos diariamente não. Sobre os pontos, já, e ele aprovou, por isso é apoiado. Ele disse que quem vai dar a diretriz da agricultura será o setor. O ministro não será indicado pelo partido tal. A primeira vez que temos um ministro que realmente vive da terra é agora, com o Blairo Maggi. 

O sr. quer ser ministro?

Se eu toparia? Se ele me convidar… As pessoas precisam entender que se a agricultura patina, a cadeia da economia cai toda. 

Voltando à política, haverá candidato do PSL em São Paulo?

Então, o pessoal pede para ele. Mas eu vou falar do que eu entendo, meu setor. Tenho dois irmãos, todos votam diferente, nunca briguei. Não briguei com o Geraldo por política.

Falando nisso, como ficou o almoço de domingo com se u irmão [integrante da campanha de Alckmin]?

É a ironia do destino, o que a gente pode fazer? Ele está no juízo dele, eu estou no meu.

Frederico D’Ávila

Nasceu em 2 de novembro de 1977, em São Paulo. Graduou-se em direito pela FMU.

Produtor de grãos, é diretor da Sociedade Rural Brasileira.

Foi assessor especial de Geraldo Alckmin (2011-13) no governo de São Paulo e colaborador da campanha do tucano à Presidência. Ex-coordenador de agronegócio do PP, agora dirige o programa do PSL no setor.