Ricardo Eletro ensaia retorno da rede, mas com nova marca para lojas físicas

Por: Raphael Pati – Correio Braziliense Um dos casos de empresas que não conseguiram se manter em pé durante a pandemia de covid-19 foi o da rede Ricardo Eletro, administrada pelo grupo Máquina de Vendas. Apesar de ter sido uma das maiores redes varejistas do país, com mais de 1,2 mil lojas e 28 mil funcionários em seu auge, os negócios ruíram durante o período de crise sanitária.
Além da pandemia, outros fatores, como a prisão do fundador e ex-presidente da empresa, Ricardo Nunes — acusado por sonegação de impostos —, contribuíram para a derrocada da companhia, que atravessa um período de recuperação judicial. O caso se arrasta com dois pedidos de falência no ano passado, revertidos na Justiça, e que aguardam julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Atualmente, a empresa planeja se reerguer, segundo o principal executivo (CEO) da Máquina de Vendas, Pedro Bianchi, que está no cargo desde 2019. O foco é retornar às origens, acreditando no valor, tanto do comércio on-line quanto do varejo físico, mas com uma nova marca nas lojas físicas que devem chegar a 50 até o fim de 2024. “É um processo de volta total, mas em um cenário muito difícil”, afirma. O contexto atual, na avaliação dele, com a taxa básica de juros (Selic) a 13,75% ao ano e baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), será “muito desafiador para todo mundo”.
A gente está em um processo de retomada. A empresa sofreu muito com a covid-19 e com as questões políticas também. Não dá para negar toda essa instabilidade toda. No ano passado, tivemos dois pedidos de falência, que foram revertidos. Os processos estão agora aguardando julgamento no STJ. A gente está começando do zero. Estamos aqui lutando de novo, mas temos mais de 100 empregos diretos e indiretos sendo gerados. Abrimos já duas lojas e estamos com programação de abrir mais três por mês, até o fim do ano. Chegando a 25 no fim deste ano e a 50 no fim de 2024. As duas primeiras lojas físicas foram abertas em Pedro Leopoldo (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte, e na própria capital.
Nova marca
Estamos fazendo a seguinte estratégia em relação ao antigo nome da rede. Como no e-commerce existem muitas fraudes, entendemos que, para o consumidor, ter uma marca nacionalmente conhecida, como a Ricardo Eletro, pode trazer maior segurança, em termos de que é um site confiável e ninguém vai utilizar os dados. Por sua vez, na loja física, onde o consumidor é de oportunidade, desenvolvemos uma nova marca, chamada “Nossa Eletro”. Na verdade, desde 2020, eu queria lançá-la para mostrar para as pessoas que, agora, é uma nova Máquina de Vendas, uma nova companhia. Só que, por uma série de motivos, não consegui lançar antes. E, agora, que estamos reabrindo as lojas, encontramos o momento perfeito de fazer essa migração. Na verdade, eu queria que tudo ficasse “Nossa Eletro”.
Cenário difícil
É um processo de volta total em um cenário muito difícil. Vejo que há algumas empresas começando nesse cenário, empresas que se alavancaram quando os juros estavam em 2,5%, quase 3% ao ano, e, agora, os juros chegam a 13,75% anuais, sem crescimento do PIB. É um cenário muito desafiador para todo mundo.
Mudanças
Eu acredito que a pandemia deu um “boom” digital. O nosso faturamento físico e digital, em 2018, era de 80% e 20%, respectivamente. Agora, estamos reconstruindo e vendo o comportamento do consumidor. Uma diferença daquele ano para agora é a questão do endividamento das famílias, que aumentou muito, e a questão do desafio para o e-commerce ser lucrativo.
Estratégia
A loja física ainda tem espaço, muito pelo próprio comportamento do consumidor brasileiro e de questões de infraestrutura, de acesso à internet, educação digital, etc. Mas ainda tem um espaço muito grande na loja física. Eu não diria que o nosso maior foco é o e-commerce. O nosso maior foco hoje é voltar às origens da empresa. Sou o único diretor estatutário, estou aqui refundando a Ricardo Eletro e a Máquina de Vendas. E eu acredito muito na loja física, ainda.
Nova tendência
Nós estamos bastante atentos ao Phygital (união de varejo físico e digital). Cada vez mais, vai ser uma regra de que o consumidor compra no site, retira pela loja, às vezes, no caminho do trabalho, no deslocamento diário, e vice-versa. Então, é muito importante a mudança de paradigma para os próximos anos, que é a questão da força da logística de cada um. Quem conseguir entregar melhor, mais rápido e mais barato vai ter a vantagem competitiva do e-commerce. Mas a dificuldade do e-commerce no Brasil é a logística, que ainda é muito cara e tem uma infraestrutura deficitária.
Caso Americanas
A repercussão é péssima para o setor, porque colocou em xeque a governança corporativa do varejo. Os bancos e os fornecedores estão puxando o freio. Todo mundo está com medo, sem saber onde está pisando, em outras companhias. Então, para o sistema, é muito ruim. Torço para que os credores e os acionistas, em especial, olhem para o doente, que é a empresa. Tem que responsabilizar quem fez esse rombo, como fez? Sim, pelo amor de Deus. Tem que ser apurado e punir de forma exemplar, porque vai ser um marco na história da governança corporativa no Brasil. Mas acho que não se pode deixar de olhar para o doente. O doente é uma companhia que demanda uma necessidade de caixa grande e o varejo é muito sensível. Então, qualquer descasamento de caixa gera um dano muito grande, o que foi o que aconteceu com a Máquina de Vendas, inclusive.
Futuro
Nos nossos planos, em primeiro lugar, tem todo um tema de recuperação judicial, de a gente estabilizar o processo da recuperação judicial. Em segundo lugar, é tentar acelerar o pagamento dos credores trabalhistas e isso é um tema muito sensível e é um tema que me tira o sono e que me faz acordar também de manhã para trabalhar. O terceiro é fazer um acordo com a Procuradoria da Fazenda, sendo uma dívida relevante que foi descobrindo, mas tem sido uma dívida muito maior do que a gente imaginou. Então, esse é um acordo que a gente está começando a construir, é um acordo difícil, e estamos fazendo.