O Globo
O delegado responsável pelas investigações na cervejaria Backer, Flávio Grossi, da Polícia Civil de Minas Gerais, disse à reportagem do “Fantástico” que foi ao no domingo que “se houve uma sabotagem, ela foi realizada em longo prazo, de forma contínua”.
Segundo ele, que disse não descartar nenhuma linha de investigação no momento, isso justificaria o fato de vários lotes terem sido contaminados com o dietilenoglicol em tempos diferentes — a substância foi parar em 32 lotes de 11 rótulos produzidos pela Cervejaria Backer, em Belo Horizonte.
Devido aos riscos à saúde humana, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciaram a interdição de todas as cervejas produzidas pela empresa com data de validade igual ou posterior a agosto de 2020.
Na fábrica
O “Fantástico” também entrou na fábrica da Backer e constatou que 500 mil litros estão parados dentro das instalações da marca, que tem 70 tanques de fermentação e 140 funcionários.
Segundo a reportagem, em 2019, a Backer produziu cinco milhões de litros de cerveja para suas 18 marcas. A Belorizontina, onde inicialmente foi detectada a substância tóxica, representava 70% das vendas.
Na última quinta-feira, foram confirmadas outras duas mortes em decorrência do consumo da cerveja contaminada. Ao todo, são quatro mortes e 15 pessoas internadas em estado grave.
A síndromenefroneural, como é chamada a intoxicação provocada pela ingestão do dietilenoglicol, começa com sintomas como mal-estar e dores abdominais. Logo, os rins param de funcionar, e o paciente não consegue mais urinar.
Depois aparecem sintomas neurológicos, como problemas de visão e paralisia facial, que pode evoluir e chegar a todo o organismo. Nos casos mais graves, a pessoa só respira com a ajuda de aparelhos.
Uma das vítimas, o professor universitário Cristiano Mauro Assis Gomes, de 47 anos, teve os primeiros sinais de recuperação registrados na reportagem do “Fantástico”. Internado desde o dia 23 de dezembro do ano passado, ele chegou a perder todos os movimentos do corpo, mas já conseguia mexer as pernas na cama do hospital.
— Ele sempre foi praticante de atividade física diária, uma pessoa muito forte mesmo, e você vê ele ali numa cama de CTI, um sofrimento do outro mundo, não podendo mais falar, se mexer — diz sua mulher, Flávia Schayer Dias, que mantém as esperanças: — Hoje eu tenho a certeza que ele vai sair curado, apesar de a equipe médica, alguns médicos virem falar que ele realmente vai ficar com sequela, eu tenho certeza de que ele não vai. Existe milagre.