Um frade, quatro membros de irmandades católicas e três funcionários de funerárias do Recife fazem parte da primeira lista de denunciados à Justiça pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) por suposto envolvimento no aluguel ilegal de túmulos no Cemitério de Santo Amaro. O grupo responderá pelos crimes de estelionato e formação de quadrilha. Entre os réus está o pároco da Igreja de Nossa Senhora da Penha, o frade Luís de França Fernandes, 51 anos. O caso foi denunciado com exclusividade pelo Diario.
O juiz Ivon Vieira Lopes, da 4ª Vara Criminal da Capital, acatou a denúncia na última semana. Na decisão, ele argumentou que os depoimentos de testemunhas ouvidas pela polícia confirmam que a “comercialização de sepulturas pertencentes às irmandades religiosas é fato corriqueiro, havendo variação na quantia cobrada”. Pessoas chegavam a pagar até R$ 1 mil para sepultar parentes numa das vagas disponíveis.
O promotor Carlos Eduardo Seabra, da Central de Inquéritos da Capital, explicou na denúncia que o caso se trata de “um esquema entre administradores de irmandades e funcionários de funerárias, os quais superfaturam os túmulos e retiram para si comissões. Há exumações que não são informadas às famílias dos mortos, que, por sua vez, ficam sem saber onde encontrá-los”.
Uma das vítimas, o advogado Zolmanaro Calixto, apresentou à polícia recibos assinados por Luís de França com valores variados cobrados pela renovação da catacumba da avó. No ano passado, porém, ele descobriu que o corpo dela havia sido tirado para dar lugar a outro. Ontem, o religioso disse que não iria comentar as acusações. “Não darei entrevista. Qualquer informação sobre esse assunto deve ser tratada com a comissão da arquidiocese”, afirmou.
Entre os denunciados, o MPPE destacou a atuação de Fernando Alves da Silva, 62, que chegou a ser preso em dezembro. Ele foi apontado como o “mais ativo dos administradores dos túmulos das irmandades”. Testemunhas relataram que era responsável pela maioria das negociações com familiares de mortos, mas havia deixado, há algum tempo, de representar as irmandades após a descoberta das cobranças indevidas.
José Expedito Querino Santos, 40, administrador da Igreja de Santa Cruz, também se apresentou como um dos protagonistas do esquema. Ele escondia ossadas humanas no templo religioso para que os túmulos alugados fossem novamente negociados. O réu ainda foi acusado de furtos de objetos valiosos da igreja. O Diario tentou contato com a comissão arquidiocesana responsável pela intervenção das irmandades, mas não houve pronunciamento.
Escândalo pode ser maior
O número de pessoas indiciadas pela Polícia Civil após a conclusão do inquérito que apura as denúncias no Cemitério de Santo Amaro pode ser ainda maior que o já denunciado pelo MPPE. O delegado Adelson Barbosa, responsável pelo caso, afirmou ontem que aguarda o resultado de perícias do Instituto de Criminalística (IC) em notas fiscais e recibos emitidos no aluguel de túmulos. O IC também não entregou o relatório sobre os ossos humanos encontrados em 43 sacolas por trás do altar da Igreja de Santa Cruz.
O delegado relatou que foi pego de surpresa, pois não sabia que o MPPE havia se antecipado e denunciado parte do grupo investigado à Justiça. “Estamos ouvindo depoimentos e aguardando laudos para finalizar o inquérito. O número pode ser maior”, disse. O perito criminal Diego Costa confirmou que os ossos encontrados são recentes, e que na próxima semana deve entregar o laudo detalhado.
Quanto aos ossos recolhidos na Igreja da Madre de Deus, no Bairro do Recife, no mês passado, o perito criminal disse que eles são muito antigos – o que leva a crer que não se tratam de restos mortais retirados ilegalmente do Cemitério de Santo Amaro para que os espaços fossem alugados para outras pessoas. Em ambos os casos, o Instituto de Medicina Legal (IML) ficará responsável por descobrir a quem pertenciam os ossos. (Diário de Pernambuco)