Enquanto o país assiste ao desbaratamento do esquema que joga luz sobre o lamaçal de corrupção que envolve – e compromete – dirigentes de empreiteiras, ocupantes de cargos de comando na Petrobras e políticos, os nossos congressistas agem para rechear ainda mais os próprios bolsos.
Ao invés de aproveitarem o chamado escândalo “petrolão” para começar a limpar a imagem da classe política, senhores e senhoras da Câmara e do Senado se movimentam para reajustar os próprios salários de R$ 26,7 mil para R$ 33,7 mil.
Além do que recebem, vale lembrar, eles dispõem de apartamento funcional ou auxílio-moradia de R$ 3.800 e verba indenizatória de até R$ 41 mil para deputados e R$ 44,2 mil para senadores.
Com esta última, pagam gasolina, telefone, passagem e hospedagem nas viagens que fazem em nome das “visitas às bases”. Ou seja, os salários entram livres, leves e soltos nas suas respectivas contas.
Mas, para garantir o aumento, eles precisam aprovar, antes, o reajuste do salário dos ministros do STF, de R$ 29,4 mil para R$ 35,9 mil. Isso porque os vencimentos dos magistrados balizam o teto constitucional dos salários dos servidores.
Quer dizer, a elevação dos contracheques dos congressistas provocará também aumento nos salários da Presidente da República, do Ministério Público, das casas legislativas das outras esferas, além do Judiciário.
Enfim, o impacto previsto para os cofres nacionais deverá superar a casa de R$ 1 bilhão ao ano. Obviamente, o reajuste não é ilegal. Corrige perdas acumuladas desde 2010.
No entanto, diante da produtividade do Congresso e da fartura de auxílios financeiros já garantidos mensalmente aos seus integrantes, o aumento de R$ 5 mil é imoral. Ainda mais quando se vê que nem mesmo debates instalados nas casas resultam em algo edificante.
As discussões feitas a partir dessa onda de anti-corrupção, de combate a desvios de recursos públicos, acontecem em ritmo eleitoreiro ou pautado por interesses nos cargos do segundo governo Dilma.
Opositores insistem num inócuo terceiro turno, enquanto governistas tratam de não deixar o fogo amigo se apagar. E nós assistindo os “representantes” do povo caminhando para receber R$ 33,7 mil mensais.
Diário de Pernambuco